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Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014) | Quando a arte tira seu fôlego

Quando se fala em filmes intensos, é automático pensar em temas como guerra, perseguições de carro, doenças incuráveis ou algo do tipo, mas é bem difícil fazer essa ligação com um tema como música, mais especificamente, o jazz. Whiplash – Em Busca da Perfeição surge para provar que existe muita intensidade escondida nos bastidores da música, bem como sofrimento, obsessão e dedicação. Um filme que aborda um tema comum – música -, mas de um ponto de vista praticamente inédito em Hollywood.

Andrew Neiman (Miles Teller) é um jovem talentoso que foi aceito na escola de música mais prestigiada do país. Seu talento, porém, não lhe garante o reconhecimento que deseja perante sua família, que exalta seus primosWhiplash - Em Busca da Perfeição | Quando a arte tira seu fôlego jogadores de futebol americano e o menospreza. Do outro lado dessa realidade está Terrence Fletcher (J. K. Simmons), um professor manipulador e abusivo que não poupa os alunos de agressões físicas, verbais e psicológicas nos ensaios. Ele acredita que não é possível alcançar o sucesso sem sacrifício e considera seus atos de violência justificáveis alegando que é necessário incentivar (no caso dele, pressionar) os músicos para que seu verdadeiro talento se revele. Mesmo quando esse “incentivo” implica em ressaltar os menores erros deles com insultos anti-semitas e homofóbicos, colocá-los para competir uns contra os outros ou dispensá-los sem nenhum motivo coerente.

Em busca não apenas dos seus sonhos, mas de reconhecimento, Andrew se entrega aos abusos do professor e dedica a própria vida à atingir suas expectativas.

A atuação de Miles Teller é de tirar o fôlego. Obsessivo, furioso e perturbado, o ator consegue trazer a tensão entre Fletcher e Andrew para o público, de forma que a cada cena de ensaio seja impossível respirar confortavelmente. O jovem baterista se torna cada vez mais parecido com seu mentor, abrindo mão de pessoas, momentos e de sua própria saúde pela busca da perfeição. Seu único laço emocional que permanece intacto é com Fletcher que, por vezes, serve como figura paterna. A transformação de Andrew se torna mais evidente quando seus ensaios solitários se tornam perigosos. De repente, música se mistura com sangue e já não existe um momento no filme em que os dois elementos sejam de universos diferentes. O público é trancado em seu quarto e assiste sua perturbadora maneira de praticar obsessivamente as escalas, até que seus membros estejam dolorosamente contorcidos. Suas mãos sangrentas são inutilmente cobertas de curativos, mas não há curativos para as feridas internas que estão sendo abertas no baterista.

Whiplash - Em Busca da Perfeição | Quando a arte tira seu fôlego

As cenas chocantes aumentam à medida que o tempo passa e mais chocante ainda é saber que o diretor e roteirista Damien Chazelle desenvolveu a trama inspirando-se em sua experiência própria como baterista. A fotografia de Sharone Meir é fundamental para causar o impacto desejado. Se não fossem os suaves movimentos da câmera ao longo dos ensaios e apresentações, os close-ups nos atores e instrumentos e os ângulos certos captados em cada momento, todo o trabalho espetacular do elenco poderia ter sido em vão. A atuação de J. K. Simmons é fundamental para construir o personagem Fletcher como um homem aterrorizante, sádico e inescrupuloso, e os prêmios que o ator tem levado para casa são decididamente merecidos.

Whiplash - Em Busca da Perfeição | Quando a arte tira seu fôlego

Minha única crítica não é em relação a Whiplash – Em Busca da Perfeição, mas em relação à falta de reconhecimento artístico ao ator Miles Teller. Não é irônico que seu personagem seja um jovem atormentado pela obsessão de ser reconhecido, e o ator whiplash-em-busca-da-perfeicao-quando-a-arte-tira-seu-folego (8)não receba a devida atenção durante as premiações? Para dar vida a Andrew, Teller praticou bateria durante 3 semanas, 4 horas por dia e não tomou sol durante esse tempo, pois o personagem tinha que ser pálido, como se vivesse apenas para a música. Infelizmente, este é apenas mais um caso em que Hollywood fecha os olhos para um talento indiscutível. Espero que, assim como Andrew enfrenta seu professor, Teller enfrente os cinemas e prove que essa foi apenas uma das atuações impressionantes que ainda apresentará.

Whiplash – Em Busca da Perfeição é brilhante e cruel ao mesmo tempo. Embora exista a interpretação errônea de que o longa romantize o abuso sofrido pelos músicos, a real mensagem que Damien Chazelle está transmitindo é o questionamento sobre a arte e o preço que muitos artistas pagam em nome dela. Preço esse, que muitas vezes é a própria vida.


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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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