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Warrior – 1ª Temporada (2019) | Porradaria e uma boa história

Bruce Lee foi um visionário das artes marciais e um grande pensador como poucos o conhecem assim, uma pessoa a frente do seu tempo.  Mesmo após três décadas de sua morte, ele ainda continua surpreendendo e agregando com suas ideias para possíveis filmes. “Warrior” é uma das provas vivas do seu legado deixado em manuscritos inacabados e perdidos, encontrados por sua filha Shano Lee, apenas demostra que suas histórias ainda merecem atenção.

Criada por Jonathan Tropper, responsável também pela excelente “Banshee” (recomendo assistir), temos o foco entre brigas por gangues chinesas misturado ao pouco da  filosofia oriental com seu kung fu, claro que envolveria muita porrada, mas sem esquecer seus personagens que são a cereja do bolo . Não à toa que o único canal que aceitaria tal violência e um pouco de cenas picantes seria ninguém menos que o Cinemax, ficou pensativo, então dá uma olhada em outros títulos como “Strike Back” e a própria “Banshee”.

Ah Sahm (Andrew Koji) é um jovem chinês experiente em artes marciais (é claro), chega a cidade de São Francisco em 1878 em busca de trabalho e ter uma vida melhor na América, mas se vê preso em uma briga de gangues chinesas, onde seu verdadeiro olhar é encontrar sua irmã perdida. Ao que parece, ela deve estar debaixo de seu próprio nariz.

Em uma época onde o Estados Unidos recebia chineses a rodo para mão de obra barata, nascia também o ódio e repulsa criada por muitos trabalhadores americanos que enxergam essa acolhimento e ocupação de seus cargos como câncer, além do preconceito inerente, tanto do próprio povo como também de outros estrangeiros e imigrantes. Para manter a paz um policial acabado e que não confia mais no sistema, Bill O’Hara (Kieran Biew), tenta evitar brigas e solucionar casos de assassinatos, enquanto esconde seu vício com jogos e uma parceria com os irlandeses.

Pode enganar e muito vezes frustar alguém que espere rever os antigos filmes de luta. A visão que Jonathan Topper cria é muito realista e com pés no chão, uma trama concisa ainda mais para seus personagens sem pudor e realistas, alguns fumam, bebem e vivem de uma boa noitada em bordeis, nada daquele respiro artístico e fantasioso dos filmes antigos. Porém, a essência estão nas homenagens em pequenos momentos como os torneios de lutas e o clima de terra sem lei da época.

Não ficamos presos somente numa trama narrativa com um personagem, temos dois núcleos e isso engloba ainda mais a qualidade desempenhada pela série, pontos de vistas diferentes da mesma situação, ainda mais que são dois imigrantes que perseguem a vida plena em uma cidade corrompida por drogas e violência, nesse respiro entre um e outro que a série cresce em sua história.

Enquanto Andrew Koji é uma repaginada do típico perseguidor de sonhos, não deixa de ser um arrogante e sentir superior a grande maioria, apesar de se garantir na porrada ainda é ingênuo em enxergar como o sistema da cidade funciona, Kieran Bew demostra em um policial veterano e cansado do próprio sistema que jurou defender, preso e cego pelos próprios paradigmas do passado.

Interessante como as lutas apresentam diferentes estilos de kung fu que são usados para um meio narrativo e não para um fim, ou seja, a série não quer ser lembrada apenas pela porradaria, aqui as ações causam as lutas e não o contrário, o foco sempre será no crescimento dos personagens e sua história, mas momentos cruciais e pontuais nos apresentam momentos  brutais, sangrentos e um tanto plausível ao acontecerem especialmente em ambientes urbano.  Não há a fantasia de pulos voadores e sim tapa na cara e ossos quebrados.

Não acredite que o  investimento tenha ficado apenas na narrativa, a fotografia também teve sua atenção, claro que precisávamos de um espelho do que seria viver naquela época, ainda mais com as gangues que assolhavam Chinatown. São nos planos abertos e alguns fechados, que conhecemos a magnitude que a cidade proporciona mas seus becos escuros e perigosos.  A iluminação não é esquecida ainda mais quando transparece isso com cidade iluminada pela lua em cenas noturnas e nos fechados pelas próprias luminárias, um cuidado para sentir a época.

“Warrior” é uma daqueles remessas de séries que se baseiam em algo já existente no meio cinematográfico, mas que recebe um intuito totalmente diferente para se torna original. Apesar de ter em sua visão ideias de Bruce Lee, funciona sem amarras e com ritmo próprio, o antigo que é novo por assim dizer, uma experiência que merece ser vista seja por sua história brutal e realista ou por seus personagens bons de briga. Querendo ou não, essa série merece sua atenção, acredito que abertura já responde por tudo isso. Assista no player abaixo.

Escrito por Rafael Tanaka

Publicitário, amante de cinema, quadrinhos, filmes e séries. Sempre existe coisas para se descobrir nesse mundo da cultura pop.

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