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O Doador de Memórias (2014) | Uma grande lição disfarçada de filme

De uns anos pra cá, as livrarias e os cinemas foram invadidos por uma ideia que, embora já exista há bastante tempo, conseguiu atingir a juventude e, consequentemente, se popularizar rápido. Estou falando dos futuros distópicos, que sempre foram motivo de discussão em grandesDoador_cartaz obras como no livro “1984” de George Orwell, por exemplo. Esses futuros distópicos fizeram história no cinema, mas voltaram com tudo recentemente, em obras como Jogos Vorazes, Divergente e O Doador de Memórias, entre outros.

É praticamente impossível fugir das comparações e li em vários lugares que O Doador de Memórias está sendo visto negativamente por motivos como a falta de luta, falta de romance, falta de ação, entre outros. É fato que as outras sagas tem muito disso, principalmente ação, mas será que O Doador de Memórias está errado? Sinceramente, não.

O filme pode ter estreado em 2014, mas o livro que deu origem ao roteiro, “O Doador” de Lois Lowry, foi lançado em 1993. Ser mais antigo que Jogos Vorazes (2008) e Divergente (2011), por exemplo, explica muito sobre as críticas negativas que vieram após as comparações. Se os outros foram escritos em tempos atuais e com a ideia de contar uma história onde, além do futuro distópico, ainda existisse espaço para romance, treinamento, lutas e ação, O Doador de Memórias se mantém afastado das características que construiriam um filme adolescente de sucesso nos dias de hoje, mas usa seu protagonista jovem para construir uma crítica à sociedade que ainda é atual.

Imagine que, no futuro, a humanidade resolveu se desfazer de todas as memórias que construíram o mundo que conhecemos, desde guerras até uma simples música, e viver de uma forma mecânica, em que não haveria desigualdade, preconceito, depressão, morte… Mas também não haveria felicidade, amor, diversão, descobertas e nem sequer cores. É nessa sociedade “perfeita” que a história de O Doador de Memórias se desenvolve.

O Doador de Memórias

Na comunidade onde Jonas vive, nada é real. Tudo que as pessoas vivem é criado para ser daquela forma. As crianças não nascem do ventre de suas mães, em vez disso, são geradas em um Centro de Criação e entregues às suas famílias na hora certa. Os casais não se apaixonam, apenas se unem como família para receber e cuidar de seus filhos até que chegue a idade deles receberem suas atribuições. Os jovens não escolhem suas profissões, em vez disso, quando chegam aos 12 anos de idade, há uma cerimônia em que os anciãos da comunidade designam qual o papel de cada um. Uma sociedade criada para ser perfeita.

A função de Jonas na comunidade é revelada como o “Receptor de Memórias”. Desse momento em diante, a vida do adolescente se torna uma luta interna sobre o que é correto e o que é o melhor a fazer pelas pessoas.

O Doador de Memórias

Para que a sociedade seja perfeita, a história mundial é apagada da memória da população, sendo função de um membro da comunidade guardá-las e usá-las para ajudar os anciãos a tomarem decisões, quando necessário. Jonas conhece esse guardião, chamado de O Doador, e começa a descobrir o mundo que conhecemos. Quando o protagonista começa a vivenciar as situações cotidianas que são banais para a maioria das pessoas, é possível se questionar sobre a razão de tudo aquilo ter se tornado banal. A sensação de adrenalina ao andar de trenó, a alegria de uma festa de casamento, a emoção que uma música desperta e, até mesmo, a beleza das cores. Se refletirmos hoje sobre o mundo, vamos encontrar centenas de defeitos e esquecer das milhares de maravilhas que existem.

Jonas se vê num dilema quando descobre tudo o que foi tirado das pessoas e não consegue aceitar que a sociedade deve ser daquela forma. É a hora dele tentar devolver a humanidade às pessoas, recuperar a história que foi apagada e dividir com os outros as sensações que acabou de descobrir, mas… Será que ele deve?

O Doador de Memórias

A chave da história é o fato dos líderes desse mundo perfeito terem certeza que, se a humanidade tiver a oportunidade de fazer as próprias escolhas, fará errado. Para que não exista nenhuma falha, é preciso que as pessoas não sigam suas próprias vontades, mas façam o que lhes é indicado. Para que a vida seja relativamente boa para todos ninguém pode errar, e errar é humano.

Mas será que vale a pena viver sem sentir-se vivo?

A fotografia do filme é espetacular e faz com que os olhos de Jonas sejam os olhos do espectador. Enquanto ele não tem memórias, o filme é preto e branco. No momento em que conhece o mundo e a vida real, as cores aparecem na tela, começando pelo tom vermelho do cabelo de sua amiga Fiona. Esse esquema faz com que o espectador perceba o quanto as cores são bonitas, por mais que sejam coisas comuns do dia-a-dia, e o quanto elas fazem diferença. Bem como a música, quando Jonas a conhece, as diferenças, os sentimentos, os sabores, os lugares, etc.

A fotografia de O Doador de Memórias
A fotografia de O Doador de Memórias

O Doador de Memórias é uma grande lição sobre a vida e você sairá da sala de cinema lembrando que o mundo não é perfeito, aliás, o mundo é cruel e com muitos problemas, mas que, por mais que nos foquemos nas coisas ruins, ainda existe beleza, sentimentos, música, cultura e milhares de outras coisas boas que fazem a vida valer a pena. Muito mais do que uma ficção juvenil, este filme mexerá com seus sentimentos e ideias, não importa qual seja sua idade. Jonas está despertando para o mundo e já vê tanta beleza que é capaz de lutar por ele, então o que nos impede?

O Doador de Memórias é uma grande lição disfarçada de filme.


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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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