Louise Se você visitar a página do criador da série, Sam Esmail, no IMDb, não encontrará muita coisa. Isso torna ainda mais incrível o fato dele ter, de uma hora para outra, se tornado o centro das atenções, criando o maior sucesso desde, digamos, True Detective (1ª temporada). A diferença é que Mr. Robot é um programa que questiona fenômenos da sociedade que já se enraizaram tão profundamente e usaram um discurso liberal para crescer, que pega o público de surpresa ao revelar que essa liberdade, na verdade, é apenas mais um tipo de prisão. Mr. Robot apresenta um nível de criatividade inovadora e diferente, e o mais importante, fora da caixa.
Rami Malek é um daqueles atores que sempre “esteve por aí”, sem conseguir muito destaque e não demonstrando seu talento devido aos papeis simplórios que lhe eram atribuídos. Por isso, sua performance brilhante em Mr. Robot é um dos pontos mais fortes do show. Elliot Alderson é o seu bilhete dourado. Além de sua aparência física crível, desde sua (falta de) expressão até as olheiras profundas sob seus olhos, seu desempenho tem tantas nuances devido à complexidade do personagem, que é um deleite assistir sua imensa versatilidade a cada cena. O fato da voz de Malek ser suavemente calma e quase hipnótica faz a narração de Mr. Robot ser um elemento chave para ultrapassar as telas e atingir o telespectador – principalmente quando ele começa a divagar sobre a sociedade.
Sua ansiedade social e incapacidade de se conectar com as pessoas o levaram a se tornar um hacker, que não só trabalha em uma empresa de segurança virtual, como também ajuda secretamente na prisão de criminosos que, por exemplo, compartilham pedofilia nas entranhas da “deep web”. Ele é pago para proteger uma corporação chamada E-Corp (carinhosamente apelidada de Evil-Corp), o que aumenta suas dúvidas existenciais, já que particularmente despreza a empresa e o que ela representa. É por isso que, quando Mr. Robot (Christian Slater) se aproxima dele com um plano para derrubar a Evil-Corp, Elliot não demora a abraçar a causa.
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Um dos aspectos mais interessantes é que o roteiro, em si, não revela e nem explica sua trama rapidamente. Você pode até prever algumas reviravoltas, mas haverão outras que o pegarão desprevenido. Enquanto alguns dos personagens são elementos constantes de cada episódio, a presença de outros não é tão proeminente – o que aumenta o mistério. O enredo principal é gradualmente seguido e, no entanto, muitas pequenas histórias aparecem paralelamente em cada episódio, tornando o conteúdo mais rico e intenso. Além disso, há o fator adicional do uso de drogas de Elliot que dificulta não só a existência de seu personagem, mas a narrativa do show, fazendo com que o espectador se sinta desorientado como o protagonista.
Mr. Robot se concentra bastante no público, não apenas por ter Elliot falando conosco durante o programa, mas não explicando as conclusões do personagem e, portanto, deixando-nos confusos, frustrados e até mesmo um pouco ansiosos, experimentando o estado mental de nosso narrador. Os outros personagens são igualmente brilhantes, mas não vou falar muito deles aqui. A surpresa ainda é uma sensação inigualável e quero que você desfrute dela ao assistir esta obra.
Sobre o visual, acredito ser a série mais estética que assisti desde Suits. O que mais amei em Suits foi sua nitidez, sua clareza, os esquemas de cores quentes e frios, e o estilo nítido que apelou aos meus sentidos e agora, Mr. Robot aperfeiçoou o mesmo tipo de estilo. Embora o esquema de cores seja predominantemente escuro, como é o estado da mente de Elliot, existem outros dois fatores que eu realmente não tinha visto antes – pelo menos não tão detalhadamente quanto em Mr. Robot – foco e composição. Mais importante ainda, a forma como a série é filmada, mostrando tudo e ao mesmo tempo tão pouco, influencia a maneira que eu, como espectadora, construo meus entendimentos sobre Elliot e seu mundo. Há muitos elementos criados com o único objetivo de elevar a experiência de quem está assistindo, através de recursos visuais, bem como narrativos. Não é difícil imaginar a realidade de Elliot e sentir a sua frustração em relação à sociedade.
Viciante e simplesmente fantástica visual, verbal e mais importante, idealmente falando, Mr. Robot é uma série que nos obriga a pensar além do que estamos acostumados, bem como refletir várias vezes sobre nossa sociedade. Se o ponto de vista é um pouco extremo, se as ideias são mostradas através de uso de drogas, insônia, isolamento social e com uma pitada de esquizofrenia, onde as pessoas com quem Elliot Alderson conversa e negocia são os espectadores, não importa – a questão é o quão longe deixaremos a sociedade evoluir até gritarmos “FUCK SOCIETY”. Chamada de versão televisiva e moderna de “O Clube da Luta”, a série apresenta referências a “Black Mirror”, “V for Vendetta”, e outras obras aclamadas. Faça um favor para si mesmo/a e assista Mr. Robot.
fsociety is taking over.
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