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Alien: Covenant (2017) | A indecisão (ou Should I Stay or Should I Go?)

Duas observações iniciais são necessárias: 1) Alien Covenant não é Prometheus 2. O projeto foi abandonado para que a aproximação (maior) ao universo iniciado em 1979 com O Oitavo Passageiro fosse estabelecida. Na troca de Prometheus ser uma prequência de uma prequência de uma prequência, foi transferido à categoria de prequência de prequência, sendo Covenant a obra que precede (temporalmente) a primeira aparição do Xenomorph nos cinemas.

2) O novo longa não decidiu se seu papel seria de continuar a discussão de origem da vida iniciada em Prometheus (2012), ou de oferecer pistas, preparar o terreno e responder dúvidas que vimos em O Oitavo Passageiro – e isso é um dos principais (senão o maior) problemas do filme.

Disclaimers dados, talvez seja interessante caracterizar as obras de Scott como sempre muito maiores do que parecem – e desnecessariamente prolongadas por decisão de estúdio. Quem presta atenção aos detalhes nunca se surpreende com as narrativas que ele cria (isto é, depois de Blade Runner e o primeiro Alien).


Tudo que você verá no decorrer das histórias é apresentado nos primeiros dez minutos dos filmes, caso você preste atenção – e a nova película não foge à regra. Prometo retomar esse ponto ao final do texto, com a única parte da resenha com alguns spoilers.

Produção gráfica

Graficamente bonito, o filme tenta remediar o excesso de grandiosidade apresentado em Prometheus (problema somente quando deixamos de lado o objetivo do filme “sozinho”, e o encaixamos dentro da franquia), e apesar de mostrar espaço e algumas possibilidades diferentes, os lugares onde o longa se passa são basicamente quatro: a nave mãe (que dá nome ao subtítulo), o planeta desconhecido onde decidem descer, o ambiente externo à nave e uma nave de carga modificada.


Efeitos especiais

Embora haja um ligeiro equilíbrio entre os tipos de efeitos especiais, os digitalmente compostos sobressaem em quantidade, o que empobrece diversos dos momentos do filme: (quase) todos os efeitos práticos são magistrais, indo desde uma maquete surreal da Covenant, a bonecos e sets reais das naves, pods e locações, construídos de verdade. A exceção vem na maquiagem em alguns momentos, que (acreditem se quiserem) torna o visual dos Engenheiros apresentados em Prometheus em um cosplay medíocre (é, eu sei).

Roteiro

Apesar de ser relativamente confusa e previsível diversas vezes, a história é bem amarrada. Os furos que aparecem aqui e ali são imediatamente preenchidos momentos depois ou quando lembramos da obra que precedeu, e da película de 79 – o que acaba sendo um problema quando analisamos a obra enquanto filme isolado, mas não vem exatamente ao caso.

                                                    CARALHO, QUE ESCOLIOSE, BICHO!

O terror claustrofóbico voltou?

A sensação de claustrofobia típica da franquia clássica não é alcançada. Existem momentos em que nos aproximamos razoavelmente da sensação, mas tudo é jogado pela janela por uma panorâmica enorme de “olhe esse monstrengo digital” ou “olhe esse planeta criado digitalmente com essas cenas em tela verde”. Por outro lado, o gore começa a se infiltrar de pouco a pouco no cinema contemporâneo, bem mais presente do que filmes do gênero dos últimos tempos e até mesmo grandes de terror e ação (retorno da imagética e dos temas dos anos 70/80).


Trilha Sonora

A trilha sonora peca diversas vezes por ser ou clichê, ou mal encaixada. Momentos em que o silêncio da cena, ou a tensão da movimentação dentro de espaços fechados ou aparentemente claustrofóbicos, com respiração ofegante, passos arrastados, etc, seria bem melhor. Se Prometheus conseguiu de maneira criativa elevar o grau de epicidade nas músicas, Covenant caiu bastante, tendo pouquíssimos momentos de destaque.

A equipe da Covenant

A tripulação não é devidamente apresentada, ou seja, não há tempo suficiente para que sintamos que cada um/a deles/as é necessário/a. Três pessoas brilham nesse quesito, mas mais pelos personagens, roteiro e atuação (e um pouquinho da história): Michael Fassbender (Assassin’s Creed, 2016), Katherine Waterson (Criaturas Fantásticas e Onde Habitam, 2017) e Danny McBride (Angry Birds, 2016).


Mas e o Alien?

Minha decepção pessoal é que todas as cenas dos Aliens são geradas por computador. Sem exceção. Embora acertem em alguns (poucos) momentos, nos demais (maioria esmagadora) erram feio. Além de ser artificial, perde-se a noção de “peso”, e um detalhe fundamental foi quase que completamente esquecido: a maneira como ele (a forma final) se locomove.

Um pouquinho de spoilers (pule para o próximo ponto caso não queira)

Alien: Covenant é uma história com mais de um enredo. Independente da ordem, o primeiro é contar o que diabos aconteceu com Elizabeth Shaw (Noomi Rapace, Prometheus, 2012) e David (Michael Fassbender); de onde vão surgir os ovos com os facehuggers que encontramos no começo do filme de 79; a revolta das criaturas contra seus criadores (especialmente a revolução da inteligência artificial); e como basicamente todo mundo vai morrer (afinal sabemos que todo mundo ali vai acabar morrendo. Se você não sabia, bem, shame on you, são 38 anos depois do primeiro filme).

Tudo isso se fecha na vilania maluca e cartunesca de David, o grande “cara mau” do longa, que decide fazer exatamente o que os Engenheiros fizeram com a vida na Terra e com os próprios xenomorphs, e o que os humanos faziam com inteligências artificiais: “brincar” de criador, mas libertando e fortalecendo sua criação para eliminar as demais espécies e criaturas, como se todas as outras formas de vida (não vegetais) fossem um erro. Tudo isso seria reflexo de outra subplot da revolta das máquinas que havia, em tese, sido contida quando mudaram a programação dos novos robôs (ou não, quando lembramos dos outros filmes).

O que eu disse sobre Scott entregar suas histórias para quem sabe olhar é curioso. São pistas que se repetem de maneira diluída, mas que são jogadas na cara do/a espectador/a nos primeiros minutos de Covenant. Listando as mais importantes:

  • A música do compositor germânico Richard Wagner, Das Rheingold, A entrada dos deuses em Valhala: na ópera, nesse momento, o deus Logi (não confundir com Loki) é um dos principais responsáveis pela queda dos deuses (que já havia sido profetizada – o Ragnarok, claro), permitindo a destruição de todos as entidades criadoras e a manutenção de uma falsa “vitória”, que é descoberta pelas valquírias ao final da última cena – e a parte que toca no momento em que David (e não Walter) entra na câmara de incubação dos colonos e pede à Mãe que toque a música, esta inicia justamente no lamento das valquírias (que percebem que os deuses vão morrer).
  • A tripulação da Covenant configura os deuses da obra de Wagner em relação ao seu número e sua função na nave – inclusive quantos sobram no final.
  • Ao contemplar a estátua de Davi, esculpida por Michelangelo, e assim “lembrar” qual é seu nome, David tem a obra como um espelho. A atuação de Fassbender transparece claramente a maneira como o androide se percebe: uma obra prima além de seu criador. Ele não enxerga Davi e vê Michelangelo, ele enxerga a estátua e vê sua própria superioridade.

  • A pintura logo no início é uma representação indireta do Apocalipse e da rebeldia em relação à servidão.
  • Walter é o único androide confiável da franquia, e sabemos que ele não vai trair ninguém por um simples detalhe: a primeira letra de seu nome. Ash (1979)(1986), Bishop (1992), Call (1997) e David (2012). Walter foge à regra – literalmente.
  • ·A cadeira na qual o Weiland jovem conversa com David é uma obra da mitologia japonesa, na qual, um shogun é traído por seu servo assim que este começa a perceber que enquanto sua servidão lhe limita, suas habilidades e capacidades vão além das de seu mestre.

Finalmente

Alien: Covenant é um filme medíocre – no sentido de mediano. Não é um fracasso, tem boas ideias e execuções, mas falha primordialmente ao não limitar sobre o que quer falar e o que quer ser: continuação de seu antecessor, ou introdutor do seu sucessor. Talvez não valha o cinema, mas é o tipo de obra que sem dúvidas vale a pena de se assistir – e teremos outro filme da franquia Alien por aí, mas dessa vez com o retorno da (maravilhosa) Sigourney Weaver (a eterna Ellen Ripley).


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Escrito por Equipe Proibido Ler

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