Louise Uma das brigas mais longas e mais dolorosas do mundo dos quadrinhos parece, finalmente, ter terminado – e com um final feliz. Antes de qualquer coisa, vou esclarecer os fatos para quem não sabia dessa treta medonha, mas quem já tinha conhecimento de tudo, só rolar um pouquinho pra baixo que vai saber o que aconteceu!
Jack Kirby é um dos nomes por trás de muitos heróis que você vê brilharem nas telonas de cinema e, recentemente, na televisão. Eu poderia
falar o dia inteiro sobre o trabalho desse gênio, mas vou ter que resumir as coisas pra não perder o foco da matéria, que é o fim da briga “Kirby x Marvel”, então vamos lá. Em 1941, a Marvel se chamava Timely Comics e quem era a número 1 no mercado de quadrinhos, era a DC Comics. As coisas começaram a mudar quando o excelentíssimo Jack Kirby, em parceria com Joe Simon, lançou o Capitão América.
Junto com Joe Simon, Kirby criou obras famosas, além do Capitão América, como Sandman, Boy Commandos, Newboys Legion e Manhunter. Na Marvel, ele se juntou com ninguém menos que Stan Lee, e foi aí que a magia aconteceu: Quarteto Fantástico, Thor, Hulk, Homem de Ferro, X-Men, Os Vingadores, Doutor Destino, Inumanos, Pantera Negra, Galactus, Surfista Prateado, entre outros.
O problema é que a indústria dos quadrinhos é complicada e o pessoal que trabalha com isso tem que 
dar muito duro pra conseguir ser reconhecido, a coisa piora quando se fala de antigamente. Marvel, DC e qualquer editora, na época, não dava o valor merecido aos seus freelancers. Por isso, é como se Jack Kirby não fosse o dono dos personagens que criou, já que fazia por encomenda e era pago por página. Ele faleceu aos 76 anos de idade, no dia 6 de fevereiro de 1994, na Califórnia. Após sua morte, quem assumiu a briga pelo reconhecimento de seu trabalho foram seus filhos. Todos os tribunais diziam a mesma coisa pra eles: Kirby era contratado pela Marvel para criar HQs, portanto os direitos são da editora.
Em setembro/2014, uma apelação da família Kirby se encaminhava à Suprema Corte estadunidense. Provavelmente viria mais uma resposta negativa (ou não, vai saber?), mas ambas as partes conseguiram finalizar um acerto amigável dias antes de o julgamento. O comunicado oficial da Marvel e da família Kirby foi o seguinte:
“Marvel e a família de Jack Kirby resolveram amigavelmente suas disputas legais, e estão ansiosos em avançar no seu objetivo mútuo de honrar o papel significativo que o Sr. Kirby teve na história da Marvel”
Isso não é tudo! Além do final feliz, já é possível colher os primeiros frutos desse acerto: a editora colocou o nome de Kirby como co-criador dos X-Men, do Quarteto Fantástico e dos Inumanos nos créditos de All-New X-Men #33, Inhuman #7, Fantastic Four #12 e Wolverine and the X-Men #11, e como autor do Capitão América (ao lado de Joe Simon) em Death of Wolverine: Deadpool & Captain America #1. Abaixo, algumas imagens dos créditos:
Embora esse seja um motivo pra comemorações, é preciso que os fãs de quadrinhos, e até mesmo os novos fãs, que descobriram os super-heróis no cinema e na televisão, e agora também são leitores assíduos de HQs, que muitos artistas ainda sofrem com a injustiça das grandes editoras – principalmente se tratando de Marvel e DC Comics.
Neil Gaiman não escreve mais histórias de Sandman porque a DC não paga os royalties que ele quer por novas histórias e pelas reedições do original. Alan Moore não escreve mais histórias de Watchmen também por brigas com a DC devido a direitos autorais. Gary Friedrich, co-criador do Motoqueiro Fantasma foi condenado a pagar US 17 mil para a Marvel, por vender material do personagem em convenções de quadrinhos, porque os direitos autorais não pertenciam a ele e a editora deveria ser reembolsada.
Nem tudo são cores e as páginas que nos divertem tanto, dia após dia, podem ter muita sujeira escondida. Mas isso não impede que nós, fãs, mostremos nosso apoio aos criadores desses personagens incríveis e sempre estejamos ao seu lado para que mais mudanças positivas aconteçam, como essa que aconteceu com Jack Kirby!
