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Arrow | Precisamos falar sobre os problemas com as Canários

Precisamos falar sobre Arrow e sobre as Canários. É importante que você saiba desde já que eu não estou aqui pra fazer mimimi ou promover o ódio gratuito, mas farei uma crítica construída de acordo com a minha opinião unida à das pessoas que acompanham a série e interagem comigo. Arrow já está na sua 3ª temporada e eu demorei demais pra colocar tudo o que há de errado com a trama envolvendo as Canários em uma matéria, então pega a pipoca e me acompanhe (TEM SPOILER NÉ):

A CW prometeu contar a história de origem do Arqueiro Verde num seriado baseado em personagens dos quadrinhos da DC Comics. Até então, beleza, Arrow tem muitos pontos positivos – assim como algumas coisas superficiais, como um Oliver Queen (Stephen Amell) sem camisa fazendo flexões no seu esconderijo secreto em praticamente todos os episódios da primeira e segunda temporadas. Alguns dos pontos positivos são os outros personagens, como o guarda-costas John Diggle (David Ramsey) e a hacker Felicity Smoak (Emily Bett Rickards), que foram promovidos a membros da equipe.

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Arrow segue uma fórmula estabelecida e bem-sucedida que a CW tem usado repetidamente em várias séries: uma premissa vagamente sci-fi/fantástica/ficcional + insira um elenco com membros atraentes do sexo masculino, que passarão boa parte dos episódios sem camisa, por qualquer motivo + adicione muita angústia e relacionamentos = sucesso com as fangirls. Vide: Supernatural, Beauty and the Beast, The Vampire Diaries, The Originals. O público-alvo da CW é uma avalanche de adolescentes do sexo feminino. A verdade é que as histórias dessas séries são, geralmente, bestas, e ao mesmo tempo divertidas.

Arrow | Precisamos falar sobre os problemas com as Canários

Arrow não é uma exceção. Vamos lá, a série conta a história do playboy bilionário Bruce Wayne Oliver Queen, que naufraga em uma ilha habitada apenas por morcegos mercenários e aprende artes marciais com seu mentor Ra’s al Ghul Yao Fei. Em primeiro lugar, o público tem que acreditar que ele aprendeu a utilizar arco-e-flecha com maestria, artes marciais e, de quebra, teve umas aulinhas sobre o poder de cura das ervas e de língua estrangeira com a Shado, enquanto evitava ser morto/torturado e tentava encontrar comida. Ok, beleza. Oliver volta pra Starling City com um caderninho de anotações que seu pai moribundo lhe deu, e que tem uma lista de nomes de pessoas que ‘falharam com a cidade’. De agora em diante, Oliver vai corrigir os erros do seu pai usando um capuz e arco-e-flechas. Na primeira temporada a mãe dele junto com os inimigos que ele tá tentando eliminar tenta “limpar a cidade” destruindo o bairro mais pobre – conhecido como Glades – usando uma máquina de terremotos. Como eu disse: histórias bestas e divertidas. Estamos falando de quadrinhos, certo?

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A trama é besta e divertida, mas não é ruim. É uma história fictícia que fica legal na tv (assim como nos quadrinhos), e por isso Arrow foi renovada para a 2ª e depois 3ª temporadas. O problema é que tem coisas que simplesmente não dá pra fechar os olhos e fingir que tá tudo bem porque é “apenas uma série de herói baseada em quadrinhos.” E você vai entender do que estou falando logo abaixo.

O PROBLEMA COM AS CANÁRIOS

Para aqueles não familiarizados com os quadrinhos da DC Comics, Dinah Laurel Lance/Canário Negro é uma das personagens mais incríveis criadas pela editora. Ela é maravilhosa. Suas habilidades vão de luta física até super-poderes, ela é uma excelente acrobata, perita investigadora, ótima estrategista, especialista em análise tática, treinada em artes Marciais (Aikido, Boxe, Capoeira, Kung Fu, Hapkido, Judô, Jiujutsu, Krav Maga, Muay Thai, Savate, Tae Kwon Do e Wing Chun), possui reflexos aguçados – incluindo a capacidade de capturar ou destruir flechas no ar, entre outros. Seu super-poder se trata de um grito sônico capaz de chegar a 300 decibéis, devido ao seu grau incrível de controle sobre as cordas vocais. Ela é capaz de matar uma pessoa somente com esse grito. Para você ter uma ideia, em Aves de Rapina #125, a Oráculo sugere que Dinah é uma lutadora melhor que o próprio Batman. E ela não tá brincando.

O grito da Canário Negro faz até o Superman sangrar.
O grito da Canário Negro faz até o Superman sangrar.

Mas a Laurel de Arrow é muito diferente. Não é nem remotamente similar à personagem dos quadrinhos.

Foi preciso 3 temporadas pra Laurel assumir o posto de Canário Negro. Antes dela, foi introduzida a Sara, uma personagem criada única e exclusivamente para a série (que eu até agora não entendi o motivo) como Canário, que era até similar à personagem dos quadrinhos, mas não estava lá pra representá-la. Ah, e foi morta. MORTA.

A realidade é que os roteiristas de Arrow conseguiram estragar todas as personagens femininas da série. É impressionante a incapacidade que existe ali quando se trata de retratar mulheres. Não vou entrar no mérito de outras personagens porque ficaria longo demais, vamos tratar apenas de Sara e Laurel:

Durante a primeira temporada a Sara estava “morta”, mas os produtores da série deram início à campanha anti-Arrow | Precisamos falar sobre os problemas com as CanáriosLaurel mesmo que não tivesse nenhuma personagem feminina forte para que o público pudesse se apegar (surge o amor incondicional pela Felicity). Laurel foi escrita desde o começo de uma forma tão superficial, que os roteiristas praticamente ajoelharam na frente do público pedindo “POR FAVOR, ODEIEM ESSA PERSONAGEM.” Num primeiro momento, ela desprezava o protagonista, depois entrou em um triângulo amoroso com Oliver e seu melhor amigo… Enfim! Nem todo mundo odiou ela à primeira vista, porque talvez a segunda temporada pudesse trazer alguma surpresa.

E trouxe. A surpresa da 2ª temporada foi a Canário, mas não a Laurel. Foi introduzida uma personagem nova (Sara, irmã de Laurel) que usava um traje, tinha técnicas de luta e características similares à Canário Negro dos quadrinhos, e se auto-intitulava “Canário“. Na época, fiquei contente.

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“Ué, tava reclamando até agora e diz que ficou contente?”
Como qualquer adaptação, existem mudanças que precisam ser feitas. Quando a Sara surgiu com o título de Canário, senti que a personagem dos quadrinhos estava sendo bem representada. Sara não tinha um super-poder, mas tinha um aparelho tecnológico que reproduzia o barulho ensurdecedor e fazia a referência aos quadrinhos valer a pena. Era uma exímia lutadora, sendo treinada pela Liga dos Assassinos – ninguém era páreo para ela. Tinha seu próprio código de conduta, ao contrário de todos os outros personagens, ela não obedecia Oliver Queen e agia de acordo com suas vontades. Enfim, Sara era a Canário que, aparentemente, Laurel não conseguiria ser. O nome era apenas um detalhe.

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Enquanto a Sara/Canário conquistava uma legião de fãs com sua coragem, força, determinação e independência, Laurel era enterrada pelos produtores numa cova profunda de ódio. A personagem foi transformada numa alcoólatra egoísta que acaba perdendo o emprego e causando problemas pra todos que estão ao seu redor. A campanha anti-Laurel voltou com força e teve sucesso total: se alguém ainda simpatizava com ela, se foi. Laurel se tornou tudo o que as garotas não queriam ser, enquanto Sara se tornou um ícone para se espelhar.

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E chegamos à famigerada 3ª temporada…

No primeiro episódio, Sara é assassinada sem mais nem menos. Todo mundo fica perdido, querem encontrar o assassino dela e não acham nada, o tempo passa, nada acontece, feijoada. A Laurel é a única que fica realmente incomodada com o fato da Sara ter sido assassinada, é muito bizarro. E isso faz com que ela vá treinar boxe pra vingar a morte da irmã sendo que 1) Ninguém sabe quem é o assassino e 2) Boxe? Sério? Os roteiristas querem introduzir a Canário Negro oficial tendo treinado boxe por algumas semanas, sendo que a anterior foi treinada pela Liga dos Assassinos? Isso é um insulto pra inteligência de geral.

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Sem contar os momentos em que o Oliver se mete na vida de Laurel, dizendo pra ela não treinar, como se fosse o dono dela ou coisa do tipo… E ela? Faz beicinho.

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Ok, então ela treina por duas semanas, o Arqueiro sai de cena, ela veste uma roupa de couro e uma peruca loira e: CANÁRIO NEGRO. Os episódios em que ela vai pra rua tentar agir como heroína só mostram uma mulher frágil e destreinada apanhando pra caralho. PRA CARALHO. E mesmo que ela não apanhasse, mesmo que ela tivesse treinado mais… O que fizeram com ela é muito, mas muito errado. Laurel é apenas uma sombra do que um dia a Sara foi, e as comparações que existiam antes só pioram. Ela não age como uma heroína, mas como uma garota irritada que precisa descontar sua raiva, tristeza e frustração em alguém, ou seja, batendo em bandidos na rua.

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Só que a grandiosidade da Canário Negro vai muito além de sair dando porrada nos outros. Ela é uma super-heroína que nunca é prejudicada por lembretes de que ela é uma ~menina~com~emoções~ que precisa ser salva o tempo todo. Ela é independente, motivada e é uma heroína por escolha própria – não por vingança. Ela é uma rocha emocional, bem como uma rocha física – madura, confiável e confiante.

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Dinah derrotando uma FUCKING amazona.

A Laurel de Arrow é, de longe, a coisa mais frustrante da série.

Mesmo quando ela põe a máscara e tenta ir à luta, os momentos finais são concluídos com um beicinho e um olhar assustado para lembrar a todos que não se preocupem – ela ainda é uma garota feminina e frágil. Infelizmente, ela está tão longe da Dinah Lance/Canário Negro dos quadrinhos, que eu sequer consigo pensar nelas como a mesma pessoa. A adaptação da personagem de Laurel é ofensiva e perturbadora, porque destrói uma personagem feminina exemplar, que é tudo o que uma personagem feminina forte deve ser, e arranca tudo o que faz dela uma mulher incrível. Espero sinceramente que os roteiristas ou quem quer que seja que esteja por trás disso tudo tome consciência do que tem feito e, mesmo que seja nessa altura do campeonato, dê à Canário Negro o tratamento que ela merece. A atriz Katie Cassidy já deixou claro que está dando o seu melhor pelo papel, então, a atitude tem que vir de trás das câmeras.

Qual sua opinião sobre os problemas com as Canários de Arrow?

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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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