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Orange is the New Black | Bennett, Daya e o aborto paterno

O texto a seguir contém spoilers da 3ª temporada de OITNB:

Uma das características mais fortes de Orange is the New Black é não tratar seus personagens coadjuvantes como coadjuvantes. Embora Piper Chapman seja a protagonista da série, as outras detentas têm suas histórias, emoções e vidas tratadas de forma igualmente importante. Não é como se o mundo girasse em torno da protagonista, a série não é construída exclusivamente pelo ponto de vista dela, mas assim como na vida real, cada pessoa dentro da prisão tem seu próprio mundo e o público é apresentado a eles.

Um dos arcos mais importantes e envolventes desde a 1ª temporada é a história de amor improvável entre a detenta Dayanara “Daya” Diaz (Dascha Polanco) e o oficial John Bennett (Matt McGorry).

Orange is the New Black | Bennett, Daya e o aborto paterno

Em meio aos problemas da prisão, um conto de fadas acontece e nós, espectadores, nos pegamos envolvidos completamente nesse romance. No melhor estilo “amor proibido”, nossos Romeu e Julieta da prisão desenvolvem um vínculo lindo.

O desenvolvimento dos personagens desperta a empatia do público. Amamos a Daya porque ela é uma garota talentosa e especial que acaba numa prisão por ter sido negligenciada desde a infância pela família problemática. Amamos Bennett por ser um ser homem gentil, educado, que sofre pelas dificuldades da deficiência física e é o que encontramos de mais humano dentro daquelas paredes (depois das detentas, é claro).

Orange is the New Black | Bennett, Daya e o aborto paterno

Na segunda temporada essa relação se complica por causa da gravidez inesperada de Daya. O público é levado a acreditar que vai ficar tudo bem, pois Bennett, nosso Romeu, estará ao lado dela para o que der e vier. Todas nós, fãs, nos sentimos meio “Daya” naquela prisão. Bennet era um príncipe encantado e para não arrumar problemas para ele, Daya fez coisas inimagináveis.

Orange is the New Black | Bennett, Daya e o aborto paterno

É claro que a terceira temporada seria bem mais dura para nossos pombinhos. O tempo estava passando, o bebê estava chegando e as saídas se tornavam escassas. Mesmo com todas as probabilidades negativas, ainda acreditamos que o amor, de alguma forma, superaria tudo aquilo. Que Bennett estaria lá para ela, que ela sairia da prisão e eles formariam uma família.

Mas não existem príncipes encantados na vida real e muito menos na vida de uma detenta latina grávida nos EUA. Não previmos que ele iria virar as costas para ela e sua filha, porque somos tão iludidas quanto ela. Ao ponto de achar que existe um príncipe encantado que vai lhe engravidar, casar com você e dividir todas as dificuldades da maternidade.

Orange is the New Black | Bennett, Daya e o aborto paterno

A verdade é que, assim como Daya, muitas mulheres ao redor do mundo são iludidas e acabam sozinhas, sangrando, com um bebê nos braços e sem saber o que fazer. Apenas no Brasil são 5,5 milhões de crianças sem pai no registro, tampouco na vida. São 5,5 milhões de mães desamparadas pelos supostos príncipes encantados que, depois da meia noite, se transformam em abóbora.

Como pudemos ser tão ingênuas? Como pudemos nos deixar levar pelos sorrisos e promessas de um rostinho bonito uniformizado?

O arco de Bennet e Daya nesta 3ª temporada é um dos mais importantes da história de Orange is the New Black. Reflita: quantas mulheres são abandonadas diariamente por seus príncipes encantados? Quantos caras fazem com que as mulheres acreditem que eles estarão ao lado delas até o fim e, na hora do aperto, viram as costas? Bennet é a figura perfeita do príncipe que perde o encanto e Daya representa todas as mulheres abandonadas e desamparadas com um filho nos braços.

O mais importante de todo esse arco foi o quanto cada espectador sentiu a dor de Daya. Esse romance foi desenvolvido tão bem e esses personagens foram tão detalhadamente construídos, que poucos foram os que conseguiram prever a ruptura abrupta que aconteceu.

Mesmo sendo um amor impossível, nós escolhemos acreditar que, no fim, eles seriam felizes para sempre. Diz o ditado que o pior cego é o que não quer ver, e realmente é verdade. Príncipes encantados não existem e esse choque de realidade que os roteiristas colocaram na série foi intenso. Assim como você, eu esperei por ele até o último segundo. Eu tive esperanças de que ele apareceria no hospital dizendo que se afastou só para conseguir comprar uma casa e encaminhar os papéis da adoção do bebê. Eu escolhi não acreditar que alguém poderia ser tão desumano com uma mulher.

Mas esse é o mundo real. E no mundo real, não existem contos de fadas.

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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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