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A Grande Aposta (2016) | Um viés sarcástico sobre a crise que devastou Wall Street

2008. Esse foi o ano. O ano em que o mundo viu um gigante quebrar. Em que uma bomba implodiu e tudo ruiu. As consequências foram devastadoras e afetam muitos países (inclusive o nosso) até hoje. Por causa desse acontecimento, a indústria cinematográfica se debruçou diante do estouro da bolha imobiliária americana e se propôs a contar as consequências e as possíveis causas de tudo que aconteceu naquele ano através de vários filmes e documentários. Entre eles estão: “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” (2010) de Oliver Stone; “A Grande Virada” (2010) de John Wells; “Margin Call: O Dia Antes do Fim” (2011) de J.C Chandor; “Grande Demais para Quebrar” (2011) de Curtis Hanson; e tantos outros.

Mas nenhum desses filmes teve a ousadia de contar o lado das pessoas que apostaram na quebra da economia americana para se dar bem. Até agora.

A Grande Aposta, dirigido por Adam McKay (“O Âncora” e “Quase Irmãos”) conta uma história baseada no livro “The Big Short: Inside the Doomsday Machine”, de Michael Lewis. Tudo começa em 2005, com Michael Burry (Christian Bale), ex-médico que trabalha em um fundo de cobertura, uma forma alternativa de investimento de altíssimo risco, muito conhecido como “Hedge Fund”. Burry é um cara excêntrico e de pouco contato social. Um mestre em cálculos e apreciador de um bom rock’n roll em altíssimo volume.

Ele passa a estudar o mercado imobiliário americano e descobre que há uma bolha que está prestes a estourar. Por causa disso, resolve apostar contra os bancos, ou seja, passa a operar vendido – quando um investidor aposta na queda dos valores das ações. Jared Vennett (Ryan Gosling), Mark Baum (Steve Carell), Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock) ficam sabendo sobre a descoberta de Michael de maneiras diferentes e decidem fazer a mesma coisa. Enquanto os bancos faziam a festa acreditando que o mercado imobiliário era sólido, alguns gestores passaram a ver o que ninguém estava vendo: a economia global entraria em colapso. Todos os bancos acharam que eles estavam drogados ou surtados apostando contra eles, mas três anos foram suficientes para que se provasse o contrário.

A Grande Aposta é um filme que tenta tratar de um assunto difícil e confuso para muitos, por causas dos termos técnicos e jargões, de forma despretensiosa. Com a quebra da quarta parede, o diretor tenta deixar tudo mais simples e engraçado, explicando os termos e siglas do mercado financeiro para o espectador utilizando personagens como Margot Robbie, Selena Gomez, o economista Richard Thaler e o chef Anthony Bourdain. Além disso, ele conseguiu, com esse recurso, tirar a posição do espectador de mero observador e elevá-lo ao papel de testemunha, ou seja, você não estará apenas assistindo algo, mas testemunhando tudo aquilo que a trama vai apresentar.

É engraçado ver como as grandes corporações financeiras reagem ao desejo do grupo que aposta na quebra da economia. Para estes gananciosos, ninguém seria louco a ponto de não pagar uma hipoteca. Adam Mckay consegue mostrar, do seu ponto de vista,  quão corrupto é o sistema que deixou Wall Street chegar nesse ponto e causar uma devastação imensurável não só aos Estados Unidos, mas também aos mercados emergentes e países em desenvolvimento.

Steve Carell está incrível no papel de Mark Baum. Ele é o típico personagem que sente nojo do sistema e tem os seus motivos para sentir essa repulsa – isso é o que dará mais motivação para ele querer ver os vampiros de Wall Street na sarjeta. Com um humor bem ácido, Carell geralmente quebra o clima do filme, protagonizando cenas e diálogos desconcertantes.

Christian Bale também está sensacional, tanto é que foi indicado a melhor ator de comédia ou musical no Globo de Ouro deste ano e pode, com certeza,  ser um dos indicados ao Oscar. Ryan Gosling complementa com maestria esse elenco que já é de peso. Seu personagem é essencial para costurar a trama e dar andamento ao filme.

O elenco de apoio é um aditivo necessário para girar a máquina com fluidez, seguindo os ritmos de aceleração, pausas e desaceleração por parte do comandante Adam McKay. Com muito humor, ele vai prendendo a audiência utilizando deste e de alguns outros recursos, já citados anteriormente. Você será influenciado a torcer pela quebra dos bancos, mas em contrapartida, também sentirá um pouco de culpa, pois torcer pela quebra deles é torcer pela derrota de uma nação inteira.

E aí, ele te faz perceber que não existe lado bom nessa história, existe aqueles que têm direito aos botes e que estes não são para mulheres e crianças, mas sim para aqueles que viram o que ninguém viu. Somente para os poucos que enxergaram além da ganância e da exploração uma forma de ganhar com o estouro de uma bomba relógio de um mercado que muitos acreditavam que jamais seria detonada. É aquela velha máxima do “Nem Deus derruba o Titanic”.

A edição e montagem deste filme está muito bem e a forma com que foi feita não deixa a narrativa e a condução do enredo de forma arrastada. A trilha sonora complementa os momentos de tensão com os de descontração da forma esperada, ou seja, atende a proposta que o longa deseja passar.

O único problema  está atrelado aos termos técnicos e, por mais que as explicações tenham um cunho humorístico e descontraído, ainda fica confuso. Por isso que eu disse mais acima que o diretor tentou deixar tudo mais simples. Você provavelmente vai rir, mas não vai entender nada. Ao menos foi essa a reação que eu tive diante daquilo que via. Mas com o passar do tempo você vai pegando as “manhas” e vai compreendendo o filme sem dificuldade.

Brad Pitt foi produtor em A Grande Aposta e, pela primeira vez, não aparece como o galã do filme ou protagonista. E, pelo que vi em tela, ele não fez questão disso. Sua participação é pequena em relação à dos outros personagens, mas não deixa de ser menos importante.

Enfim, A Grande Aposta é um filme que mostra um viés sarcástico sobre a crise que devastou Wall Street. Ele escancara a soberba dos bancários e também mostra os efeitos sociais que a crise desencadeou. É um longa que joga a verdade nua e crua na nossa cara e muitas vezes nós mesmos fechamos os olhos e preferimos acreditar em outra coisa. Apostando no humor, você será testemunha de algo que ainda não foi contado sobre a crise de 2008, principalmente como você pode ser enganado sem se dar conta do que está realmente acontecendo e quando você acordar, perceberá que faz parte de um pelotão de frente.

É muito bom assistir um filme que tenta contar a história de algo complexo de forma simples e prática. De uma forma geral, trata-se de um filme que tem tudo para ser um dos melhores do ano.

“A verdade é como poesia, e a maioria das pessoas detesta poesia” – autor desconhecido.


 

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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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