Por que a Netflix precisa de um Punho de Ferro asiático? Entenda:

Começarei o texto dizendo que não sou asiática. O que vou falar aqui não é por experiência própria, e sim por algo muito bacana que algumas pessoas estão esquecendo: bom senso. A proposta aqui é indicar o porquê, para mim e para muita gente, é importante que o ator que interpretará o personagem Danny Rand (a.k.a. Punho de Ferro) não seja caucasiano.

O Universo Cinematográfico da Marvel está maior do que nunca, e está se expandindo ainda mais com as séries televisivas. Demolidor foi um sucesso estrondoso para a Netflix e sabemos dos planos para as próximas séries. Teremos Jessica Jones, uma mulher como protagonista, teremos Luke Cage, um homem negro como protagonista e teremos Punho de Ferro, um homem… Branco?

O problema não é ser branco, mas olhar ao seu redor e encontrar um homem branco sendo tirado de sua zona de conforto, levado para um novo mundo e descobrindo novas possibilidades. O cinema da Marvel já está cheio disso. Cheio de homens brancos, loiros e de olhos azuis.

Já vi muitas pessoas reclamarem que a Marvel dos quadrinhos está abusando do “politicamente correto” e abusando na aceitação de todas diferenças existentes. Reclamaram da nova “Nova” por ser uma garota negra. Reclamaram muito quando Odinson perdeu sua capacidade de levantar o martelo de Thor, e este foi passado para uma mulher. As pessoas simplesmente não aceitam quando algo diferente do que estão acostumadas é representado, mas eu tenho uma surpresa para vocês: A DIFERENÇA EXISTE. Existem pessoas de muitas cores, de muitos ideais e de muitas origens.

“Por que ele tem que ser asiático? ” Não precisa, necessariamente. Mas condiz com a história do personagem. Por que não um ásio-americano que não aceita sua própria cultura? K’un Lun, lugar onde Danny Rand aprende a ser o Punho de Ferro, é basicamente tudo o que um garoto oriental vivendo na América gostaria de evitar para se mesclar com a massa. Ele teria que aprender sua cultura para se tornar o herói que deve ser.

“Mas já tem Shang Chi!” Se eu for listar aqui o tanto de homens caucasianos que temos, nunca mais termino de escrever. Não há validade alguma nesse argumento. Shang Chi é um personagem interessante sim, mas não é essa a proposta aqui. Ele e Danny Rand são completamente diferentes. Seria excelente ver Shang Chi na série do Punho de Ferro ou em Os Defensores, inclusive espero que ele apareça. Mas temos em nossas mãos a oportunidade de ter um protagonista asiático. O Mestre do Kung Fu, apesar de ser um personagem interessante e válido, também não é o ponto da nossa conversa.

“Danny Rand é branco nos quadrinhos e faz parte de quem ele é.” Isso é baboseira. A história por si própria não precisa mudar. A trama não precisa de grandes mudanças. A mudança tem que vir dessa “síndrome de salvador branco”. Nós brancos já temos uma lista infinita de heróis nos representando, então não me venha com esse papinho de “Danny Rand precisa ser branco”. A história de Rand é sobre alguém que não se encaixa no meio que vive.

“Ah, mas um asiático sendo um lutador marcial não é estereótipo? Não é racismo? ” Não! Quando você imita um asiático falando “flango”, quando você acha que todo asiático é um gênio ou quando você julga o que eles comem, aí sim temos problemas. Eles falam diferente porque herdam o sotaque da língua nativa deles. Eles têm um desempenho acadêmico maior porque são dedicados. Eles comem coisas diferentes das nossas porque faz parte da cultura deles. Um asiático saber artes marciais não é um estereótipo feito pelo ocidente, e sim mais uma coisa que pertencem à cultura deles. Você pode verificar isso em todos os filmes que ainda são feitos por eles mesmos e para eles, com essa proposta.

O ponto principal aqui é que precisamos de diversidade. Precisamos de representações reais de todas as pessoas que existem neste mundo. Por isso, não venha me dizer que não importa. Você não é um floquinho de neve especial, e todas as outras pessoas tem tanta importância quanto você.

Um Danny Rand oriental seria importante para toda uma geração que, pelo que apurei pesquisando e questionando alguns amigos, estão perdendo o contato com sua cultura. Eu sei que a Ásia não é igual. Quando digo “asiático” estou sendo o mais ampla possível. Um japonês. Um chinês. Um vietnamita.

Chega de mais do mesmo. Chega de representatividade podre e estereotipada feita por Hollywood.

Sei que muitos vão reclamar, assim como reclamam do Johnny Storm ser negro no novo Quarteto Fantástico, mas quer saber? Não importa. Podem reclamar o quanto quiser e não gostar. Enquanto não houver igualdade representativa na mídia, não estaremos satisfeitos e vamos continuar pedindo  por mais diversidade.

Essa é a chance da Marvel/Netflix de dar um grande passo. Não desperdice!

Se você quer expandir seus horizontes e sair do mundinho de ignorância, leia também: O Tocha Humana será negro no cinema, e não há nada errado com isso [ou O Inesperado Racismo da Ignorância]