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Watchmen e o espelho da realidade

Quando Alan Moore e Dave Gibbons começaram a pensar “Watchmen” não tinham noção do quanto essa obra iria revolucionar a cultura pop como um todo. Os quadrinhos são divididos em eras e esse gibi marca o inicio de uma mudança na nona arte. Muita coisa aconteceu durante esses mais de trinta anos desde a publicação da primeira edição desse clássico, até chegar ao último episódio da série “Watchmen” produzida pela HBO. Assistimos uma das maiores homenagens já feitas para “Watchmen”.

Watchmen e o espelho da realidade
Quadrinhos de “Watchmen”

A série trazia muito dúvida aos apaixonados pelos quadrinhos, o filme de Zack Snyder apesar de uma estética excelente, falha em caracterização, os gibis “Antes de Watchmen” tem boas aventuras, mas nada que se compare ao original, o quadrinho “Relógio do Juízo Final” oscila entre edições que beiram a genialidade e outras que não dizem a que vieram. Entretanto, Damon Lindelof mostrou que ainda poderia surpreender os fãs e fez uma série acima da média.

“Watchmen” é desafiadora, misteriosa, intrigante e totalmente política, tem tudo que a obra original é e ainda respeita boa parte dos conceitos que o quadrinho havia colocado. Episódio após outro víamos a interessante Sister Night, magistralmente interpretada por Regina King, entrando de cabeça dentro de uma investigação que poderia mudar os rumos da sua cidade Tusla.

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A série bastante atuante em debater preconceitos e minorias fala a linguagem do povo, sem se preocupar em mostrar que, personagens que muitas pessoas idolatravam, na verdade não passavam de pessoas com muitos problemas e que indivíduos com má fé poderiam transforma-los em um símbolo de um grupo supremacista. Essas escolhas usadas como força motriz para manter os episódios em trending topics nas redes sociais e abrir margem para discussão sobre como podemos encontrar a maldade e o ódio bem próximos e não percebe-lo.

Watchmen e o espelho da realidade
Doutor Manhattan em “Watchmen”

Exibindo o vídeo sobre a verdade do acontecimento em Nova York, é necessário falar da utilização de bons personagens da obra original e o cuidado de não recontar nada já que havíamos visto nos quadrinhos, esse último tópico um dos mais importantes na minha opinião. É explicado para quem não leu o gibi de uma boa forma sobre os assassinatos em Big Apple, mas sem soar repetitivo para os leitores, uma saída muito inteligente do showrunner.

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Na trama policiais são ameaçados por supremacistas chamada de a “Sétima Cavalaria”, isso levam eles a usarem máscaras para esconder suas identidades civis e conseguirem autonomia para combater o crime. Enquanto vemos um governo progressista tentando pagar uma dívida histórica com descendentes de pessoas que foram injustiçadas. Um grupo elitista está em busca de poder, pois se sente coagido por não ter o mesmo “respeito” que eles. Desse conflitos começamos a entender as peças dentro de Watchmen. Porém esse é o ponto mais importante da trama, pois ele fala da nossa realidade. É um cenário totalmente cru de como a sociedade no planeta tem se polarizado. Um retrato que busca abrir um canal de discussão sobre como estamos falhando em tentar evoluir.

Watchmen e o espelho da realidade
Sister Night em “Watchmen”

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Uma série com uma protagonista negra, com uma avó bissexual, misturando personagens de várias etnias e transformando um deus azul em negro é uma mensagem para muitas pessoas. Damon Lindelof quis mostrar que as narrativas em mundo não podem ser homogêneas e que isso não interessa a etnia de baixo da máscara, a bondade vai além disso. Entretanto, muitos desses temas vão sendo excepcionalmente debatidos durante os nove episódios dessa magnifica série.

Vale salientar como algumas coisas que Moore e Gibbons apenas tinham pincelado nas páginas do gibi são bem explicadas e evoluídas na série. A saga de Ozzymandias, a evolução de Laurie Blake, os ecos conspiratórios na cabeça de Looking Glass, o excelente episódios de Um Deus Entra em um Bar, que faz uma explicação magistral de como funciona os poderes de Doutor Manhattan e o episódio magistral mostrando a vida do Justiça Encapuzada, são alguns dos pontos chaves dessa série tão interessante.

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Não se sabe ainda se teremos uma segunda temporada de “Wacthmen”, mas sinceramente não precisa existir. A forma que essa temporada finaliza deixa tudo tão fechado e redondo que fico até preocupado com uma continuação. Porém já fui contra a ideia de mexer na obra de Alan Moore e Dave Gibbons, mas se isso não tivesse acontecido não teria visto uma série que retrata tão bem nossa realidade e mostra que estamos MUITO longe de chegarmos perto da utopia que o gibi de “Watchmen” pregava no seu fim.

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Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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