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Um quadrinho, jogo político, resistência e preconceito

Estamos em 2019! Um ano que vai ficar marcado na vida de muita gente. Vivemos quase em um estado de exceção. Todo dia temos uma nova crise, uma nova polêmica e polos discutindo. São atos e mais atos que dificultam a vida das pessoas, mudanças escabrosas de leis, desmatamento e coisas das mais diversas, porém parece que um ponto de virada foi um quadrinho. Um gibi que chamaram de polêmico, que foi lançado em 2010 e que um prefeito teve conhecimento em 2019, parece ser um ponto de mudança dentro do nosso cenário.

Na última semana na Bienal do Rio de Janeiro, vimos o prefeito Marcelo Crivella postar um vídeo dizendo que queria cuidar das crianças e condenou um quadrinho chamado “Vingadores – A Cruzada das Crianças” por ser impróprio para menores de 18 anos. Motivo? Pura homofobia! Na história há dois homens adolescentes se beijando em uma das páginas. Não tinha cena de sexo, não tinha violência, não tinha estupro, não tinha nada de errado. Era um beijo. Só isso! Mas para quem é preconceituoso é uma afronta. Ele mandou recolher os livros com temática LGBTQ+ ou coloca-los em sacos pretos lacrados com a inscrição “IMPROPRIO PARA MENORES DE IDADE”.

A Bienal se colocou contra a atitude autoritária do prefeito do RJ, postou uma chamada para todos os seus debates falando sobre diversidade e contra preconceito e entrou com uma liminar na justiça pedindo segurança para que seus livreiros pudessem vender as obras, sem qualquer tipo de censura prévia. Em um primeiro momento a liminar foi atendida e junto disso o youtuber Felipe Neto comprou 14 mil exemplares de livros com a temática LGBTQ+ para distribuir totalmente de graça no evento. Um ato grandioso da parte do produtor de conteúdo.

Vingadores – A Cruzada das Crianças

No sábado (07) à tarde, a limar da Bienal foi caçada pelo senhor chamado Claudio Mello Tavares, esse senhor disse que o ato do prefeito Crivella não tinha nenhum ato de censura e que seu trabalho era agir para defender as crianças de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Vamos deixar claro que estamos falando apenas de um beijo entre dois rapazes e nada de anormal. Até bastante natural, pois muitas vezes vemos casais heterossexuais trocando carinhos na TV, filmes, séries e nas telas de cinema. Bom, depois dessa pequena recordação, voltamos ao desembargador que tomou essa decisão, pois em um passado não muito distante, via relacionamentos homossexuais como doença. Um pensamento MUITO retrogrado. As pessoas podem ter fé, rezar para quem quiser, mas devem RESPEITAR os outros. A palavra homossexualismo não é usada há décadas. Pessoas do mesmo sexo terem relações não é considerado doença. Você pode viver sua fé, mas é necessário aceitar princípios básicos da democracia e ter um pouco de discernimento sobre o que está falando.

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Mesmo com a liminar caçada pelo desembargador homofóbico, o evento manteve seu ponto e fez vendas de obras, ministrou mesas e finalizou o dia com um ato contra a censura que estava rolando no local. Pessoas passeavam pelo pavilhão onde acontecia a Bienal fazendo gritos de protesto com os braços levantados e mostrando seus livros. Um ato de resistência contra toda a censura que estavam tentando fazer. Uma manifestação pelo saber, pela liberdade de pensar, criar e amar. Um grito para que os outros pudessem fazer algo sem serem recriminados por preconceituosos que hoje estão no poder.

Vingadores – A Cruzada das Crianças

Nesse interim acabamos com a história quando o ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal dá causa vencida para a Bienal e diz que nenhum prefeito tem o poder para ser censor de obras e que os livros que ele estava tentando tirar de circulação, em nenhum momento estavam infringindo algum artigo do ECA. Crivella não aceitando a tomada de decisão do STF, tentou plantar uma notícia falsa em sua argumentação dizendo que queria tirar de circulação um livro que sequer estava sendo vendido na Bienal e com uma foto com valor em euro. Uma medida desesperada. O tiro saiu pela culatra.

Porém se você achou que o prefeito perdeu, caiu do cavalo. Ele saiu fortalecido. Porque mostrou para seu eleitorado que também é homofóbico, que vai lutar para “seguir” as leis do senhor. Esquecendo o fato que o Brasil é um país laico e que religião e estado não se misturam. Todo seu ato não passou de uma mera cortina de fumaça, um jogo político para começar a corrida para sua reeleição em 2020. Minha preocupação nisso tudo é servimos de peões para pessoas desse porte, que parecem estar mais preocupadas com quadrinhos do que com necessidades básicas da população que o elegeu mesmo ele não comparecendo a nenhum debate ou entrevista.

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Para quem acha que política e quadrinhos não se misturam. Esse longo artigo é para explicar mais uma vez como eles estão ligados e como uma pessoa má intencionada, usa seu poder político para dizer que eu não posso ler um gibi, porque ele acha que vai contra o que a religião pela qual ele acredita. Sempre deixando claro que existem MUITO mais religiosos que respeitam os outros. Basta ver a postura do Papa nos últimos anos dizendo que “tendências homossexuais não são pecado”. Talvez nesse momento, precisamos deixar de ser reativos e criarmos uma forma de resistir abrindo o diálogo para quem está realmente querendo entender esse jogo de xadrez caótico o que Brasil se tornou.

O Proibido Ler é um site sobre cultura pop, aqui você vai ler sobre bons filmes, séries, animes, livros, games e quadrinhos. Porém, já deixamos claro que não compactuamos com qualquer tipo de censura. Pois as pessoas são livres para amar, crer, viverem do jeito que lhe deixarem felizes. Aqui não existirá censura. Compartilhamos abaixo a campanha de incentivo à leitura feita por alunos de publicidade e propaganda da UNIFACS  (Universidade Salvador) no ano de 2003 e que serviu de inspiração para do site no ano de 2009. 

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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