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HQ do Dia | Superman: The Coming of the Supermen #1

Neal Adams indiscutivelmente é uma lenda dos quadrinhos. Seu trabalho como ilustrador principalmente década de 1970 e 1980 na Marvel e principalmente na DC Comics redefiniu os rumos da narrativa visual super heroica naquelas duas décadas. A influência de seu estilo clássico de caracterização e fluxo de páginas é sentida na indústria até os dias de hoje.

Não é de se admirar que em 2016, Adams tenha credibilidade suficiente para selecionar seus trabalhos e propor histórias que atendam seu estilo de criação. Portanto em “The Coming of Supermen” temos um gibi feito da maneira que o artista se sente mais confortável trabalhando.

“Superman: The Coming of the Supermen” é uma mini série limitada em seis edições que começa a ser publicada esta semana pela DC Comics e nos mostra uma aventura do Homem de Aço do período pré-Flashpoint na qual testemunhamos a chegada de outros três Kryptonianos da cidade miniaturizada de Kandar ao Planeta Terra. Ainda não fica claro se este aqui trata-se de um Superman Pré ou Pós-Crise, e provavelmente nem é de interesse de Neal Adams entrar neste tipo de pormenor cronológico. O que temos aqui é um início de aventura super heroica clássica cinética, movimentada e levemente atabalhoada. Ou seja, daquele jeito louco e gostoso que muitos quadrinhos das décadas de 1970 e 1980 eram feitos.The-Coming-of-Supermen

Na trama, vemos a chegada dos 3 Homens de Aço quase que simultaneamente ao um acidente na Lexcorp que liberta um exército de Parademônios além do odioso Kalibak em Metropolis. Os Supermen chegam quase que imediatamente e sem muita explicação e a porrada já começa a estancar no meio da cidade do jeito que o fã do Azulão gosta de ver. Enquanto isso o Homem de Aço “titular” do nosso Planeta está salvando a população de um vilarejo no Oriente Médio de um bombardeio terrorista. Nesta ponto da história, Adams insere certa dose de “mistério” (se é que podemos classificar assim) através de uma figura demoníaca e anônima que se apresenta a Kal El como “um mensageiro”. A trama evolui para um escalonado conflito entre as forças de Apokolips e os 4 Supermen e no final temos “revelações” sobre o passado de Darkseid (esta parte especificamente é bem esdruxula). Tudo pontuado com narrações convenientes da indefectível Lois Lane (com intuito de situar o leitor) no telejornal e intervenções pontuais de um Lex Luthor com visual clássico (indicando um envolvimento maior do vilão nas próximas edições).

O roteiro de Adams é extremamente corrido e linear e cheira a mofo e naftalina. Como o próprio autor declarou, este é o universo do Superman com o qual ele se sente mais confortável trabalhando. Então temos um formato de roteiro extremamente cru e direto. Não temos analogias ou narrações filosóficas e a primeira edição do gibi é um festival de ação do início até quase que seu final. Os diálogos de Adams são funcionais e não tem nada de cativantes, chegando aos limites da cafonice do século passado em alguns pontos. Portanto para os fãs de histórias clássicas é um prato cheio. Não há preocupação alguma em contextualizar esta história em algum universo DC conhecido, o intuito do autor é contar um arco fechado e se divertir trabalhando com um personagem clássico da editora em um formato mais tradicional de quadrinhos.

O traço de Neal Adams ainda tem impacto, tem classe e é bonito de se ver. No entanto, sem um arte finalista para lapidar suas páginas o visual geral do gibi acaba sendo penalizado e temos quase que na totalidade desta edição contornos bem rústicos para as ilustrações e diagramação. Quem já viu o traço de Adams em colaboração com um arte finalista como Dick Giordano só pra citar um exemplo, sabe que o ilustrador ganha muito com uma colaboração em dupla. Este tipo de trabalho gráfico não impacte tanto a leitura, mas fica aquele gostinho de que faltou algo para o visual do gibi ficar perfeito.

“The Coming of the Supermen” é Neal Adams se divertindo, escrevendo e desenhando um dos personagens mais queridos da cultura pop. O cara recebe carta branca da DC Comics para criar uma história fora de continuidade com sua versão favorita do personagem. Adams não é um gênio narrativo e a história reflete isso nitidamente. No entanto, dependendo da disposição do leitor é possível se divertir com esta leitura. A arte de Adams é consistente e o visual do elenco é saudosista e “classudão”, no entanto uma colaboração com um arte finalista externo seria muito positiva para o visual desta revista. Em um universo DC que atualmente não tem nada de “feijão com arroz”, esta leitura acaba se destacando por oferecer uma nova história contada nos moldes dos antigos quadrinhos de outrora.

Leia também: DC Comics | Não é um Reboot, mas afinal o que é “Rebirth”?

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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