Louise Você lembra qual foi o primeiro livro “sem desenhos” que leu?
Quando eu era pequena, minha mãe trabalhou durante um tempo na Biblioteca Municipal da cidade onde eu morava (São Borja, Rio Grande do Sul). Uma das minhas atividades favoritas era acordar cedo com ela (eu estudava durante a tarde) e passar a manhã inteira na Biblioteca, com a cara enfiada nos livros da prateleira infantil. Em alguns meses eu li todos os livros “com desenhos” da prateleira e fiquei sem escolha… Tive que me aventurar no mundo dos livros “sem desenhos” e “sem graça” – era o que eu achava.
Pedi conselhos pra minha mãe (claro né) e ela me mostrou a Série Vaga-Lume. Eu fiquei animada porque os livros tinham ilustrações, uma aqui, outra ali, mas tinham. O primeiro livro que li foi “Sozinha no Mundo”, do autor Marcos Rey. Fico feliz em dizer que foi o primeiro de uma longa lista de títulos que eu devoraria durante o tempo. Eu tinha 9 anos na época.
A SÉRIE VAGA-LUME
Acontece que eu não sou a única que teve a infância/adolescência marcada pelo “Luminoso” – o vaga-lume que estampava todos os volumes da coleção de livros lançada pela Editora Ática a partir de 1972. A Série Vaga-Lume foi uma das principais responsáveis pela formação de leitores no Brasil durante muito tempo. As obras tinham a característica de ser voltadas para um público infanto-juvenil.
A característica mais marcante para mim sempre será o formato das capas clássicas da série, onde os objetos ou pessoas ficavam para fora do quadro, na capa e no miolo. As contracapas tinham uma lista com todos os livros da coleção e um espaço para você marcar um “xis” nos que já tinha lido (mas você não podia riscar os livros da Biblioteca da Escola ou, no meu caso, Municipal, então bola pra frente).
A Editora Ática continua a publicar a coleção e novos livros foram lançados na década de 2000, por isso acredito que não é só a galera dos anos 1970/1980/1990 que teve o prazer de conhecer essas obras.
Se não foi por livre e espontânea vontade, tenho certeza que alguma professora, em algum momento da sua vida escolar fez com que você lesse algum volume dessa série. Eu não quero viver num mundo onde a juventude cresceu sem a Série Vaga-Lume, imagina que horrível? Por isso, resolvi mexer nos arquivos da minha memória e lembrar quais livros da coleção eu li, listá-los e falar um pouco sobre cada um deles. Olha só:
Sozinha no Mundo (1984) – Marcos Rey
O primeiro livro “sem desenhos” que li na vida. Eu li e reli tantas vezes essa história que até perdi a conta. A última vez que li foi há muito tempo (mais de 10 anos, se não me engano), mas posso falar dele como se o tivesse acabado de ler agora. A história se passa em São Paulo (assim como a maioria das histórias de Marcos Rey), onde Pimpa fica sozinha depois do falecimento de sua mãe. Seu único parente, Tio Lionel também desaparece e ela precisa aprender a encarar o mundo sozinha. Lembro que fiquei fascinada pela coragem da personagem Pimpa, e me emocionou bastante fazer parte de suas aventuras na imensa e desconhecida São Paulo. É especial para mim, puro amor e nostalgia.
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O Mistério do Cinco Estrelas (1981) – Marcos Rey
O surgimento dos detetives amadores e juvenis Léo, Ângela e Gino é um dos melhores livros da coleção! Tudo começa quando Léo, o mensageiro do Emperor Park Hotel, um luxuoso hotel cinco-estrelas de São Paulo, encontra o estrangeiro Ramón Varga morto na lavandeira do Hotel. Foi esse livro que despertou meu amor por histórias de investigação e me levou a conhecer as obras de Agatha Christie.
Curiosidade: o autor levou 2 meses para escrever este livro, que vendeu mais de 2,5 milhões de exemplares.
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O Rapto do Garoto de Ouro (1982) – Marcos Rey
A sequência do livro “O Mistério do Cinco Estrelas” – pode-se dizer que esses livros são a saga do trio de jovens detetives de Marcos Rey. A trama se passa no bairro Bela Vista (Bexiga) em São Paulo. Alfredo, um astro do rock conhecido como “Garoto de Ouro” planejava comemorar seu aniversário em uma cantina próxima à sua casa, com os amigos e a família, quando é sequestrado misteriosamente. O rapto é investigado por Léo, Ângela, Gino e seu chefe Jaimão.
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Um Cadáver Ouve Rádio (1983) – Marcos Rey
A terceira aventura do trio de detetives de Marcos Rey! Confesso que, dos três, esse foi o livro que menos me agradou – o que não quer dizer que não seja um bom livro. Um pobre sanfoneiro – um homem muito bom e honesto – é assassinado, e junto com a polícia, Gino, Léo e Ângela tentam desvendar o crime. Suspense e investigação.
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A Ilha Perdida (1973) – Maria José Dupré
Definitivamente um dos melhores livros que li durante a minha infância. O suspense e a aventura aumentam a cada página, é um daqueles livros que é difícil não gostar. Essa é a história de dois irmãos que moram em São Paulo e vão para Taubaté passar as férias na fazenda do padrinho. Um dia eles avistam uma ilha, que ninguém conhece, no Rio Paraíba e ficam curiosos. Quando eles encontram uma canoa, decidem ir até a ilha e são surpreendidos por uma enchente. Sem ter como voltar para casa, eles decidem ficar e explorar a ilha… E é aí que fica bom!
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Menino de Asas (1976) – Homero Homem
Li esse livro antes de ler qualquer HQ dos X-Men, que hoje é minha equipe favorita dos quadrinhos. Só agora liguei os pontos e acho que rolou uma influência forte aí. Essa história dramática relata as dificuldades de um menino que nasceu com asas no lugar dos braços. Eu era uma criança e, na minha cabeça, ter o “poder” de voar seria a coisa mais legal do mundo. Esse livro me mostrou uma face da sociedade que eu ainda não conhecia – o preconceito.
Meninos sem Pátria (1986) – Luiz Puntel
Minha professora de português da 7ª série pediu a leitura e resumo desse livro, e eu nunca terei palavras para agradecer a ela por isso. É uma história bem madura e foi muito importante pra moldar meu caráter. O autor soube fazer com que eu entendesse, mesmo jovem e imatura, o quanto foi difícil viver no tempo da ditadura no Brasil. Uma história simples e cativante, de uma família em exílio político por causa da ditadura. Isso pela ótica do filho mais velho. Acompanhar o crescimento e amadurecimento desta família e deste menino foi realmente importante para mim, e lembrar desse livro me fez sentir vontade de ler de novo.
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O Caso da Borboleta Atíria (1972) – Lúcia Machado de Almeida
Pense numa história com suspense, mistério e romance no mundo dos insetos. Eu sempre imaginei esse livro sendo transformado em uma animação, no melhor estilo “Studio Ghibli“. A história de uma borboleta que nasceu com defeito nas asas, mas conseguia viver tranquilamente com seus amigos auxiliando-a. Até que surge uma ameaça para o mundo das borboletas – um ser misterioso que começa a matar algumas delas. Atíria corajosamente vai enfrentar os inimigos até desvendar todo o mistério.
Curiosidade: para ilustrar “O Caso da Borboleta Atíria“, Milton Rodrigues Alves passou muitas e muitas horas em um Museu de Zoologia. Nas palavras dele: “Não tínhamos internet, e a melhor maneira de saber a forma de um Dynastes Hercules era indo ao Museu”.
O Escaravelho do Diabo (1972) – Lúcia Machado de Almeida
Lembro que minha mãe implicou comigo quando escolhi esse livro por causa do “Diabo” no título, e adaptei o ditado “Não julgue um livro pela capa” para “Não julgue um livro pelo título” pra argumentar com ela. Ainda bem que ela não me impediu de ler, porque além de ser um dos melhores livros da coleção, também é um dos melhores livros que li na vida (e olha que eu já li coisa pra caralho). É uma história policial envolvendo um serial killer, vários assassinatos estranhos, suspense e mistério.
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A Vida Secreta de Jonas (1989) – Luiz Galdino
Li esse aqui entre a quarta e a sexta série, não lembro ao certo em qual momento. Assim como “Menino de Asas”, essa história aborda o preconceito da sociedade, mas a trama envolve um extraterrestre – Jonas – e os desafios que ele enfrenta para ser aceito na Terra.
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A Turma da Rua Quinze (1990) – Marçal Aquino
Um amigo desaparecido, um casarão assustador e um homem com uma cicatriz no rosto. Desse jeito parece a história mais clichê do século, mas na época que eu li, era novidade. Se hoje eu gosto de suspense, investigação e mistério, devo a histórias como essa.
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Zezinho, o Dono da Porquinha Preta (1981) – Jair Vitória
Nunca vou esquecer do primeiro livro que me fez chorar. Li essa história sobre um menino e seu bichinho de estimação em um dia, e chorei por ela durante o resto da vida. Inesquecível, envolvente, comovente e linda.
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Trilogia Xisto – Lúcia Machado de Almeida
– Aventuras de Xisto (1975)
– Xisto no Espaço (1980)
– Xisto e o Pássaro Cósmico (1982)
Eu não esqueceria de um dos primeiros heróis que conheci na vida! Os feitos do Xisto foram meus livros de cabeceira por muito tempo e “Aventuras de Xisto (1975)” me contou sobre bruxos muito antes de Harry Potter. Eu poderia tentar fazer um resumo desses três últimos livros da lista como fiz com os anteriores, mas sinceramente não consigo. O que posso fazer é garantir que a leitura é espetacular e inesquecível!
Como a Série Vaga-Lume tem mais de 40 anos e mais de 70 volumes publicados, minha lista é relativamente pequena. Por isso, peço que você me indique os livros que estão faltando nos comentários – e também conte sobre sua experiência e lembranças, é claro!
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