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Review – Far Cry 4 | Mais do mesmo, mas ainda muito divertido

Não é um jogo exatamente novo, verdade. Mas a questão é que não foram muitos os que já jogaram Far Cry 4 – e isso talvez seja um empecilho para quem espera por um quinto jogo da saga, que definitivamente renasceu em seu terceiro título.

O caminho para o quarto título seria o de sucesso fácil, claro. Ainda mais do criativo e inesperado Blood Dragon, DLC que reimagina Far Cry 3 inteiro como um Sci-Fi dos anos 80. Havia uma receita e, definitivamente, uma lição a se seguir do que os fãs gostaram e não gostaram.

O problema? Basicamente o mesmo que assolou a Ubisoft em seus demais jogos, pressa. A pressa não garantiu acabamento suficiente, o que levou a dezenas de constantes atualizações logo a partir do lançamento do game, corrigindo bugs, inserindo e reconstruindo partes essenciais da história e amarrando alguns pontos soltos. Inicialmente, em seu modo de lançamento mais “cru”, Far Cry 4 era um jogo curto e repetitivo. Tudo que poderia ser apresentado ao jogador, já o era rápido (até) demais em relação ao total.

Logo em seguida vieram as correções, deixando o jogo maior, mais profundo, mais pesado (pois é), com mais recursos e, quando atualizações não deram conta, os erros de desenvolvimento foram realizados através dos DLCs (que esses, sem dúvida, garantem profundidade e vivacidade muito maiores ao jogo. Não consigo enxergar o game sem os DLCs).

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Mas não serei (tão mais) massacrante. Não são apenas pontos negativos que cerceiam o jogo. Pelo contrário: ele é extremamente divertido, e funciona onde tem de funcionar (quase sempre).

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A escolha do game se passar na fictícia Kyrat foi esplêndida. O país fictício, controlado pelo ditador Pagan Min (falarei dele mais para frente) é clara e obviamente inspirado em três países específicos: Índia, Nepal e Cazaquistão. Os elementos visuais são lindíssimos, e desde a última grande atualização não há nenhum bug de paisagem ou construção natural – e estamos falando de um sandbox razoavelmente grande – um país inteiro, por menor que seja!

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Houve um cuidado especial ao se basear em correntes de fé locais dos países citados, além de respeitosamente buscar inspiração em correntes budistas e hinduístas ao desenvolver uma mitologia rica e amarrada, com base em deuses, deusas, heróis e heroínas, os quais aparecerão ao longo do gameplay – seja nas lindíssimas cutscenes, ou como elementos de enredo, e até mesmo como detalhes em plano de fundo, como estátuas, templos, etc. Fora isso ainda há menções a religiões reais, como islamismo, e os próprios já citados budismo e islamismo, o que torna a localização religiosa do jogo extremamente crível.

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A arquitetura dos pequenos vilarejos tende a ser monótona, mas não sem motivo: o país vive em situação de miséria e conflito, em uma guerra civil. Todas as moradias são feitas com base em uma praticidade de reconstrução. As paredes são visivelmente desgastadas, as partes de madeira apresentam marcas de remendo e queimado, e com atenção suficiente conseguimos identificar pinturas apagadas, sangue seco e buracos de bala. Junte isso às belíssimas construções de fundo cultural, como enormes estátuas religiosas, monumentos, fortalezas e templos, e temos uma certeza fundamental e absoluta: a direção de arte do jogo, além de todo o envolvimento visual, foi feito com muito carinho e cuidado.

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Podemos notar isso principalmente nas cores: Far Cry 4 é um jogo colorido. As plantas são coloridas, as facções (rebeldes, chamados de Golden Path, e o exército, o Royal Army) divididas entre azul/amarelo e vermelho/camuflado; os veículos são propositalmente pintados de cores de paleta básica; as pinturas e ornamentos com os pós coloridos indianos e extratos brilhantes são, inclusive, parte do tema de abertura. As cores desempenham papel central, ajudando a compreender de maneira cinematográfica o que se passa na história.

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Existem personagens de olhos amarelos (por razões interessantíssimas), cabelos coloridos, roupas coloridas, animais coloridos – e nada disso está lá a toa. Tudo tem sua razão dentro da fantástica Kyrat, inclusive as divertidíssimas missões envolvendo experimentos com alucinógenos.

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A trilha sonora é uma obra-prima à parte. Pegue todas as músicas dos já citados Cazaquistão, Nepal e Índia, junte-as, remodele ao que seria típico à fictícia Kyrat e acrescente toques de modernidade – sem necessariamente decair ao eletrônico. Ela entra quando deve entrar e da maneira como deve entrar. Músicas de tensão podem parecer as mesmas, mas até nisso há diferenciação: a medida que você evolui no jogo, momentos de tensão trazem uma espécie de continuidade a uma melodia inicial, como se a própria canção estivesse crescendo à medida que o risco aumenta.

A sonoplastia, apesar de não tão incrível quanto a trilha, também é muito boa. E acredite, vai te ajudar muito. Seja de estar de tocaia para invadir algum lugar e ouvir um urso, ao estalar de uma queimada que acabou de começar, além das conversas dos NPCs de terceiro plano, como soldados e civis.

Poderia dedicar um longo e extenso post analisando a obra de arte que a direção artística de Far Cry 4 é, que fique claro. Quando for jogar, preste bastante atenção!

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Em relação à história, bem, temos algo simples como enredo principal. Jogamos como Ajay Ghale que regressa a Kyrat a fim de realizar o último desejo de sua mãe: espalhar suas cinzas em Lakshmana. Porém, ao chegar lá, vê-se em meio à guerra civil envolvendo os rebeldes do Golden Path (grupo supostamente fundado pelos pais de Ajay) e o exército do auto-intitulado rei de Kyrat, Pagan Min.

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Nesse ponto preciso ser sincero: eu esperava bem mais. Não do enredo inicial em si. É um ponta-pé interessante sem sombra de dúvidas, mas daí que temos uma série de problemas. Não consegui, de jeito maneira e em momento algum me identificar com Ajay. Não houve imersão. É um avatar distante que uso no jogo. Ponto. E todas as habilidades, toda força, toda expertise que o garoto tem com armas (das mais diversas!) não é explicado em momento algum. O que podemos interpretar (de uma maneira bem livre) é que há uma conexão entre a espiritualidade presente em Kyrat e o inconsciente guerreiro presente em Ajay.

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Fora isso, temos dois personagens, comandantes rebeldes, Amita e Sabal. Ambos têm um início bastante interessante, e apresentam uma profundidade cada vez maior, demonstrando quem são, o que querem – para si mesmos e para Kyrat. O problema? Isso acaba se perdendo com o tempo. Dado certo momento você sente que perdeu algum pedaço da história, porque a evolução comportamental não faz mais tanto sentido.

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E finalmente, bem, aquele que tinha tudo, excepcionalmente tudo, para dar certo e não deu: Pagan Min. O metrossexual, psicótico, sádico e maníaco rei de Kyrat foi feito não para crescer e ter seu lugar próprio como alguém único. A existência de Pagan na história tem uma razão: substituir o lugar de Vaas (Far Cry 3). E não, não dá certo.

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Pagan poderia ter sido muito bem trabalhado por conta de sua personalidade absurda, extravagante e maníaca, mas é possível enxergar em quase todo diálogo, em quase toda ação e participação do rei uma substituição forçada e referenciada ao queridíssimo psicopata do título passado.

As histórias de personagens secundários por sua vez são brilhantes. Todos, sem exceção, os demais personagens que têm posição secundária no jogo, como o brilhante Longinus, um antigo senhor da guerra que agora se dedica a uma espécie de evangelho cristão do fornecimento de armas, ou o cômico Hurk, são jóias impagáveis ao longo do game. A dublagem do jogo, que é boa, mas deixa a desejar, quando voltada a esses personagens, parece ter sido realizada por outras pessoas. Emerson Brooks, dublador de Longinus, dá um show à parte – inclusive improvisando várias das falas do personagem. Dê atenção a toda e qualquer missão que envolva os personagens secundários. Você não vai se arrepender.

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O jogo em si funciona. Muito bem, na verdade. Mas poderia facilmente ter superado o antecessor. Poderia ter utilizado não só do hype, mas do excelente time criativo e técnico que tem para criar algo fantástico, que posicionasse Far Cry 3 como apenas um degrau antes de um título absurdo.

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A jogabilidade é boa. Muito boa. O problema? É idêntica à de Far Cry 3. Temos caça, stealth, modos específicos de jogo a partir de side-missions, e missões que contribuirão no avanço do jogo, mas todos são apenas uma relocalização de tudo já visto no game anterior para Kyrat. Existem coisas novas? Claro, estaria mentindo se dissesse que não existem. O problema é que não são boas o suficiente, nem têm destaque bastante a ponto de trazer quaisquer novidades para o gameplay – ou alternativas chamativas em relação ao caminho central. Você vai fazer as mesmas coisas que fez em Far Cry 3, mas sem o envolvimento tão grande com a trama.

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Um detalhe que veio em uma das grandes atualizações pós-lançamento foi a maior atenção ao lado espiritual no jogo, que determina uma parte bem importante no gameplay e no enredo – tanto o principal, quanto as DLCs. A identidade visual do “caminho” espiritual que Ajay segue de maneira paralela (diferente do foco principal em FC3) traz um universo de possibilidades muito vasto, além de uma leve mudança de estilo bem interessante. Vale a pena perder algum tempo em missões desse tipo.

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Far Cry 4 poderia ter sido um gigantesco DLC de Far Cry 3 não fosse o cuidado artístico com o jogo. De fato há mais fluidez, maior polimento e uma leve evolução no gameplay (quase imperceptível). Tudo flui de maneira mais suave, sem quebras de gráfico. O game é, sem sombra de dúvidas, um mais do mesmo. E repete tudo que a Ubisoft faz em seus títulos: escalar em uma torre libera uma série de missões e possibilidades em determinadas áreas. Existem regiões que têm de ser liberadas da presença inimiga, como postos de comando, fortalezas e vilarejos. Existem tipos mais fracos e mais fortes de inimigos (que têm inteligência artificial piorada em relação ao game anterior, com exceção da inclusão do Hunter, um arqueiro que consegue se camuflar e controlar alguns animais). Os sistemas de crafting continuam. De retirada de pele também. Uma novidade é a possibilidade de atrair predadores para determinada localidade e criar embates entre grupos de inimigos. Fora… andar. em. fodendo. elefantes – uma das coisas mais divertidas se você tiver uma lança granadas em mãos.

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O jogo é muito divertido. A questão é que é mais do mesmo, e nem sempre isso é o suficiente – ainda mais colocando na balança a quantidade de atualizações necessárias para o jogo ser melhorado e rodar sem bugs.

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Uma coisa interessante de se observar são as várias referências ao antecessor, seja por meio de personagens icônicos, ou simplesmente nomes, o que daria a entender que sim, todos os jogos têm conexão entre si.

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A Ubisoft havia deixado claro que Far Cry 5 só sairia do papel APENAS SE muita gente jogasse o quarto jogo. O que, de acordo com o que previam, não aconteceu. Porém houve certa pressão dos fãs para um quinto jogo da saga, que está em sua fase inicial de planejamento.

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O melhor? A Ubisoft agora está trabalhando diretamente com opinião dos jogadores através de questionários e estudos localizados. Se o comportamento da empresa de reter lançamentos apenas para games bem acabados for real, podemos esperar por ótimos resultados.

Bem… se Far Cry 4 vale? Sem dúvidas. Mas espere uma promoção e compre com todos os DLCs (Overrun, Escape from Durgesh Prision, Hurk Deluxe Pack e Valley of the Yetis). O game está disponível para PC, Xbox 360, PS3, Xbox One e PS4.

Gostou? Tem mais!

Clique e leia: Review de Game

Escrito por Equipe Proibido Ler

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