Games de sobrevivência (e crafting) – Parte 1

Um dos gêneros que ascendeu bastante nos últimos anos, concentrando-se inicialmente em games para computador, mas migrando com relativa velocidade para o mundo dos consoles, é o de sobrevivência.

Colocando o/a jogador/a na pele de um avatar que luta por sobrevida a fim de atingir determinado(s) objetivo(s) em um ambiente hostil, os jogos de survival apresentam um gameplay bem mais lento quando comparados aos ditos triple A (grandes títulos de grandes desenvolvedoras/publishers).

Além disso, ao contrário do que possa parecer a primeira vista, diferem do conceito do subgênero do terror, o survival horror (que tem como exemplos máximos os primeiros jogos das séries Resident Evil e Silent Hill), no qual encarnamos uma personagem que raramente tem como revidar às investidas das criaturas que lhe cercam e precisa passar por uma série de cenários até que finalmente possa escapar com vida.

Mesmo que a mecânica de games de sobrevivência já tenha sido apresentada em alguns títulos passados, como alguns dos saudosos point & click, a concretização do estilo enquanto gênero (em crescimento) só aconteceu graças à possibilidade da comunidade de desenvolvedores independentes de criarem, implementarem e divulgarem seus projetos em plataformas colaborativas, fóruns e, mais recentemente, agregadores de títulos, como o Steam, nuuvem, GOG, etc.

Gameplay que envolve coletar recursos, em grande parte dos casos transformá-los em ferramentas e/ou em produtos mais complexos, a necessidade por alimento e abrigo e, às vezes, evitar algum inimigo, fazem parte do conceito do gênero. Confiram os games!

ARK: Survival Evolved

Game multiplayer com pegada de aventura e RPG, mas que foca, sem dúvidas, na sobrevivência e na mecânica de crafting, Ark tem uma história… peculiar. Alienígenas criaram um reality show experiência no qual seres humanos têm de lidar com um ambiente hostil em um mundo jurássico ao lado de dinossauros e outras criaturas gigantescas. As possibilidades do jogo, ainda em alpha, são enormes – desde criar tribos com companheiros, até a domar várias das feras ao seu redor e utilizá-las tanto como montaria, quanto forma de defesa.

De jogabilidade interessante e gráficos que ainda podem melhorar, Ark está sob a constante vigília de seus desenvolvedores, que realizam diversas atualizações, sempre focando na experiência in game.

Day Z

Embora Day Z se enquadre à primeira vista em um survival horror, o elemento terror presente no game se torna secundário frente às dificuldades colocadas pela necessidade de sobreviver às intempéries e às necessidades básicas. A história é extremamente genérica (uma infecção desconhecida varreu quase toda a população do planeta, transformando grande parte dos infectados em zumbis e criaturas semelhantes), mas o gameplay é razoavelmente interessante.

Também multiplayer, o jogo coloca seus/suas jogadores/as frente a desafios interessantes e de encontro com a necessidade de explorar o máximo possível, além de desenvolver boas estratégias que lhe permitam maior tempo de sobrevida possível. Grande parte do ambiente é interativo (o que é um ponto bem positivo), e as atualizações do jogo, embora demorem um pouco comparadas a outros games do gênero, trazem sempre correções e melhorias
significativas.

Don’t Starve (& Don’t Starve Together)

O game, com uma estilização única e mecânica baseada em um mundo cartunesco, amplia as possibilidades da sobrevivência ao trazer uma boa dose de comicidade e fantasia. Praticamente todas as ações fazem referência a algum filme ou série antiga de sobrevivência, e todos os personagens são caricaturados – inclusive nos momentos mais “sérios”.

A pegada do jogo, bem mais casual que seus companheiros de gênero, deixa o gameplay bem mais leve e divertido, o que não torna, claro, menos desafiador ou empolgante. A história parece ter sido tirada de uma mistura de Twilight Zone, o ideário do fantástico Júlio Verne e várias pegadas dos atuais desenhos do Cartoon Network, como Adventure Time, Regular Show e The Amazing World of Gumball.

Recentemente foi lançada uma nova versão do jogo, Don’t Starve Together, que possibilita tanto que ele seja jogado em co-op local, quanto online, reunindo amigos para (supostamente) facilitar o gameplay. As atualizações pararam por um tempo, mas um novo pacote com novas implementações e mais personagens jogáveis, além da inserção de novos elementos de mecânica já foi anunciado.

Echo of the Wilds

Echo of the Wilds faz parte de uma relativa recente onda de jogos focados na experiência enquanto algo artístico e, em alguns casos, transcendental. O jogo é bem rico e traz um gameplay em um ambiente aberto sob um aspecto pixelado (o que não significa que não é bem feito).

O sistema aplica inúmeras variáveis necessárias à sobrevivência e, principalmente, a determinadas escolhas em relação à sua sobrevida. O game, por si só, é uma experiência diferenciada com toques mitológicos e fantásticos, além de inúmeras referências a autores como Thoreau e Jack London.

Com elementos de RPG no que diz respeito aos procedimentos de utilização e melhoria das habilidades, Echo of the Wilds capricha em detalhes de sua história e de como a sua experiência interage com o mundo do game – que engloba, inclusive, clima, e saúde mental.

Eidolon

Outro single-player que pertence à onda artística e transcendental, Eidolon apresenta um visual especial. O game, que difere em mecânica de grande parte dos demais da lista, foca seu funcionamento no crescimento subjetivo do avatar e na exploração ao longo do tempo, tornando a sobrevivência um exercício bem mais espiritual do que físico.

A necessidade de se proteger das intempéries, coletar recursos básicos e evitar predadores, além de caçar e obrigatoriamente se alimentar continua. No entanto, a grande sacada do jogo é o peso emocional e psicológico que o distanciamento de um ambiente social humano e urbano podem causar. Até os sons são perpassados por uma espécie de filtro, que dão um ar diferenciado a como os percebemos.

O game insiste na tecla do crescimento da índole e do “centro” da espiritualidade enquanto ser humano só acontece em contato com a natureza de maneira pura, como os autores citados previamente já propuseram em parte de seus trabalhos – e, sem dúvidas, faz com que lembremos bastante do filme Into the Wild, de 2007.

How to Survive

Seguindo a temática zumbi, How to Survive traz uma mistura inesperada de gêneros que dá muito certo. Apresentando um sistema de sobrevivência baseado não tão somente na óbvia resistência estratégica contra as criaturas decompostas, o game cerceia temas de cunho social através de um humor ácido e, às vezes, propositalmente bobo.

Com um sistema de crafting muitíssimo bem detalhado e com base, inclusive, em referências de construção de alguns RPGs, a sobrevida torna-se algo desafiador e de constante replanejamento, tendo em vista a manobra dos constantes predadores, que aumentam em números e se diversificam em investidas a fim de reduzir suas chances a zero.
A história traz um/a náufrago/a em uma ilha completamente isolada em busca da sobrevivência diante do maior número de ameaças possíveis – algumas ridiculamente engraçadas. Os gráficos não são exatamente os melhores, mas não deixe isso te afastar do game, que tem como foco a jogabilidade, a história e a diversão.

Life is Feudal: Your Own

O pretensioso MMO de sobrevivência com crafting em um gigantesco (praticamente infindo) mundo aberto, com inúmeros tipos de interação, acurácia histórica (até certo ponto, óbvio), ação, aventura, estratégia e elementos de RPG é, sem dúvidas, um projeto interessante e cheio de potencial – e dúvidas.

Embora não consiga cumprir, por ora, o que prometeu (está em alpha), Life is Feudal: Your Own é um jogo impressionante que apresenta uma infinidade de tipos de jogabilidade e de escolhas a se tomar dentro do seu universo. A sobrevivência é um dos principais elementos, mas não é protagonista isolada como acaba sendo nos demais games do gênero.

Suas escolhas lhe levarão a determinação de uma profissão, missões (abertas), objetivos específicos e à necessidade de se aliar a grupos (muitas vezes rivais) de jogadores que batalham pelo controle de terras que possuem maior quantidade de recursos e/ou vantagem estratégica tendo em vista o terreno próximo. Esse indie é um simulador medieval bastante válido e com atualizações relativamente constantes, embora a quantidade de bugs e falhas in game desanime aos que não insistirem na complexa mecânica, que traz sistemas políticos, econômicos e até mesmo sociais, que determinam sua ascensão – ou queda – dentro do jogo.

NEO Scavenger

Dentro do universo pós-apocalíptico, levando em conta zumbis, animais selvagens, criaturas deformadas e NPCs que tentam te matar a qualquer custo, NEO Scavenger concentra-se em tornar o gênero em uma experiência cerebral. O game traz mais elementos de estratégia e microadministração de recursos (água, alimentos, pele, madeira, etc) do que qualquer outro até então.

Com gráficos simples, temos um ponto de vista distanciado e isométrico, a partir da qual interagimos com o ambiente ao nosso redor (além de objetos, carcaças, recursos naturais e inimigos) através de turnos. A movimentação reconstitui a mecânica baseada em ações limitadas que podem ser feitas dentro de um determinado espaço de tempo, e que, obviamente, têm de ser cuidadosamente calculadas.

O game pode parecer simples e até mesmo “feio” em comparação aos demais (estilizados, super artísticos ou até mesmo extremamente bem modelados), porém, o gameplay complicado (mesmo através de processos in game relativamente simples), a dificuldade (sistema de morte permanente) e a necessidade pela concentração em todos os aspectos torna NEO Scavenger um jogo de sobrevivência classe A.

Rising World

Apesar de não ser, exatamente, o mais conhecido e comentado dentre todos os outros games do gênero, Rising World talvez seja o de maior potencial até então. Erroneamente apontado como “evolução gráfica de Minecraft”, esse jogo realista (porém simples) de exploração, mineração, crafting e, principalmente, de sobrevivência, possui uma das melhores e mais bem concretizadas mecânicas em relação ao que propõe.

De mundo aberto e cheio de possibilidades, mas mais ainda, cheio de potencial (curiosa e incrivelmente aumentado a cada update), a sobrevivência ganha um ar de mistério e de charme ao presentar o/a jogador/a com incentivos e recompensas ligadas à criatividade e à aleatoriedade na qual o mundo é continuamente criado – o que significa, basicamente, que o mundo aberto desse game não tem fim!

De gráficos modestos e animações não tão potentes, Rising World é o tipo de jogo no qual é possível investir horas dentro de uma partida (solo ou multiplayer) a fim de completar tarefas, sejam elas autodeterminadas ou propostas pelo sistema de evolução do game. Ainda em alpha, o jogo recebe atenção constante dos desenvolvedores, que mantêm atenção especial em relação aos bugs, eliminando-os antes de que se espalhem para a maioria dos jogadores.

Bônus: Minecraft

O clássico contemporâneo e icônico game de blocos que surpreendeu a comunidade gamer de assalto, desperta até hoje sentimentos e opiniões contrárias, mas sempre confluindo à conclusão de que por bem ou por mal, Minecraft é um sucesso.

O game de sobrevivência e construção (com micro e macrocrafting) é o que conseguiu permear dentre as mais diversas faixas etárias e figura, até hoje, como um dos maiores sucessos dos últimos tempos (incluindo títulos grandes e independentes).

E para você, quais jogos deveriam entrar na parte 2 da lista? Comente!

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