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Um Lugar Silencioso (2018) | Onde o desespero é não gritar

Quem é vivo sempre aparece, inclusive eu. Para quem ainda não me conhece, sou a Juliane (@Exuliane) e escrevi durante algum tempo aqui no Proibido Ler. Hoje é o meu retorno e tô aqui pra falar de cinema.

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Quem já me leu sabe que evito spoilers como vampiros evitam a luz. Não acho legal tirar o prazer das pessoas, tô aqui pra resenhar, listar e não pra estragar a sua experiência. Exceto se a produção for ruim, porque aí não tem como eu piorar.

VAMOS AO QUE INTERESSA? 

A Paramount me convidou para assistir a pré-estreia de “Um Lugar Silencioso” essa semana, então decidi contar pra vocês como foi a minha experiência com o filme.

Esse terror psicológico, barra suspense, barra ficção, segue o mesmo estilo dos aclamados Corra! (2017) e A Bruxa (2016), mas ainda assim inova em sua abordagem. O filme não segue a mesma linha de sustos, como costumamos ver nos clássicos do cinema, onde qualquer falta de som é pulo da cadeira. Nesta história o barulho é a única coisa que nos causa arrepios. 


ELENCO

Dirigido e protagonizado por John Krasinski  (ator que ficou marcado por interpretar Jim Halpert, na série The Office) com roteiro assinado por Bryan Woods e Scott Beck. Um lugar silencioso é um filme onde a atuação ganha um novo sentido e a direção uma sensibilidade extra.

Emilly Blunt (vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante em televisão por Gideon’s Daughter) interpreta Evelyn e da um clima mais familiar para trama. Assim como na vida real, ela é esposa de John Krasinski que na história interpreta Lee.

A atuação de Blunt chega a causar arrepios, sua personagem expressa com um olhar o que mil diálogos não conseguiriam expressar. Já a atuação de Krasinski, é outro destaque! No papel de pai de família que está sempre com uma expressão sombria em seu rosto, ele deixa para trás a imagem marcada de seus personagens anteriores.

Ainda temos a presença de Noah Jupe como Marcus, o ator brilhou recentemente no filme “Extraordinário”. E nessa história seu personagem é uma verdadeira gracinha. 

Além dele, temos o doce Cade Woodward interpretando o pequeno Beau. Uma criança que só quer saber de brincar, em um lugar que pode ser perigoso demais para isso.

Mas o grande destaque desse filme é Millicent Simmonds, atriz novata e deficiente auditiva, que deu um verdadeiro banho de atuação e sensibilidade interpretando a jovem Regan


VAMOS FALAR DE ACESSIBILIDADE

Como o filme tem uma protagonista surda e se passa no silêncio, nada mais justo do que falar um pouco sobre a acessibilidade dele, certo?

Um filme que trabalha com a imagem. A trama é praticamente muda, então nem tente assistir sem legenda porque você falhará miseravelmente. Caso algum deficiente visual queira assistir vai ser mais complicado, compensa muito mais pegar o roteiro para ler do que optar pela audiodescrição. 

Uma história que nos mostra que é importante nos adaptarmos às necessidades dos outros.

Pessoas com deficiência auditiva terão a mesma experiência que eu tive ao assistir o filme, o que é um ótimo ponto extra para ele. Um lugar silencioso possui poucos diálogos, muita sensibilidade, linguagem de sinais e é visualmente lindo, o que torna tudo muito mais bonito de se sentir. 


ENREDO

A aposta de “Um Lugar Silencioso” é o suspense, o terror psicológico e a ficção. E nisso ele não falha. A trama do filme se passa num mundo pós-apocalíptico, onde vemos a luta da família Abbott pela sobrevivência. Sei que já estamos acostumados com esse padrão de história, só que dessa vez a coisa é diferente. Para sobreviver eles precisam fazer silêncio, isso porque o planeta foi tomado por criaturas de outro mundo que ao escutarem ruídos matam sem dó nem piedade.

Em uma fazenda no interior dos EUA, eles precisam se adaptar a uma vida silenciosa. Isso seria mais fácil se apenas o casal estivesse em perigo, mas eles tem filhos para criar e controlar crianças não é uma tarefa fácil. Eles usam e abusam da linguagem visual e de sinais para se comunicar, mas mesmo assim ainda é difícil ter um pouco de paz no meio desse caos silencioso.

Como todo filme psicológico, você não consegue desgrudar os olhos da tela mas algumas vezes precisa segurar o grito da mesma forma que os personagens. A atmosfera é desesperadora, sem apelos auditivos, o medo mora onde começa o barulho.

É agoniante. Assim como na vida real nos sensibilizamos com as pessoas e queremos ajudá-las. Imagine-se em um lugar onde você não pode gritar, imagine-se nesse lugar com a sua família.

O medo não dorme, o silêncio é quase que ensurdecedor e as coisas começam a piorar quando a Mãe, que está grávida do seu quarto filho está prestes a parir. Tá ai uma coisa que me incomodou muito. Uma pessoa num lugar desses querendo ter o bebê, colocando em risco não só ela, como toda sua família, inclusive a criança que nem nasceu. Olha, é algo meio absurdo de se pensar. 

A tensão aumenta conforme a gravidez da mãe progride, o pai precisa lidar com seus demônios, proteger a família, encontrar meios para a fazenda ficar segura e silenciosa. As crianças sentem desejo de se expressar, porque criança que não se expressa não existe. E a mãe, ah a mãe, essa tem uma força admirável. Controla cada passo, educa seus filhos, tudo isso sem dar um pio.

Nunca faça barulho. Se eles não podem te ouvir, não podem te caçar.

Não vou mentir que estava esperando bem menos dessa trama, mas ela me pegou. Isso porque ultimamente temos muito conteúdo mastigado, quase que os atores saem da tela e começam a nos chamar de ignorantes. A graça de Um lugar silencioso é essa, ninguém duvida do seu potencial de compreensão, até porque você é jogado na história sem nenhuma introdução. Você aprende a se comunicar com o filme.

Experimentando todos os tipos de sensações, a trama fala com você mesmo sem usar nenhuma palavra.

O que você sabe é que o mundo foi invadido. O que você sente é que as coisas não parecem ter solução. Os personagens não são apresentados, nem pelo nome, nem por suas funções. É aquilo que você está vendo, e só.

Você não sabe o que a criatura é, como ela chegou ali, só sabe que qualquer barulho pode fazer ela destruir a vida deles. Ah, tem outros dois detalhes: ela é cega e muito parecida com o Demogorgon de “Stranger Things”.

Nessa fazenda não existe espaço para conflitos, a vida deles é quase que poética. Eles exploram o interior de uma forma que nós, no caos do dia a dia, não conseguimos explorar. Algumas vezes sentimos aquele embrulho no estômago ao notar a dor do personagem por cada coisa que está vivenciando, é uma experiência daquelas.

O fato é que nesse lugar tudo precisa ser pensado, cada movimento, cada reação. Não se pode ceder aos instintos humanos mais básicos ou eles colocam tudo a perder. O jeito é mergulhar na trama e torcer para que ninguém faça barulho. Porque se fizer, você não vai gostar de assistir.


UM LUGAR SILENCIOSO JÁ ESTÁ EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS.

Esse filme vale a experiência, assista e comente aqui o que achou.

Escrito por Juliane Rodrigues (Exuliane)

Serial killer não praticante, produtora audiovisual de formação e redatora por vocação. Falo sério mas tô brincando no twitter @exuliane

manda nudes: [email protected]

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