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Evereste (2015) | Tensão e agonia abaixo de zero

Evereste é uma produção baseada em fatos reais, com relatos de duas obras literárias, “No Ar Rarefeito” de Jon Krakauer e “Deixado Para Morrer” de Beck Weathers, utilizados na construção do roteiro. Partindo desse pressuposto os roteiristas, Willian Nicholson (Gladiador) e Simon Beaufoy (127 Horas), tinham em suas mãos um vasto material para lapidar e entregar para o setor de execução, chamado de Baltasar Kormákur (Dose Dupla). Este, por sua vez, tinha a missão de fazer algo grandioso principalmente pela ideia que vendia com a quantidade de estrelas que contemplam o elenco deste longa.

Evereste é inspirado nos acontecimentos reais do ano de 1996, quando um grupo de oito alpinistas tentou escalar o Monte Evereste, a montanha mais alta do planeta, e acabou enfrentando uma das piores tempestades de neve que o homem já conheceu. Os alpinistas tiveram de lutar contra a fúria da natureza e superar as probabilidades impossíveis, em um esforço desesperador para sobreviver.

Jake Gyllenhaal (O Abutre) interpreta Scott Fischer, alpinista norte-americano e líder de um dos grupos de expedição ao Monte Evereste; Keira Knightley (O Jogo da Imitação) é Jan Arnold, a esposa grávida de Rob Hall, o líder neozelandês dos alpinistas, vivido por Jason Clarke (O Exterminador do Futuro: Gênesis); Josh Brolin  (Vingadores: Era de Ultron) vive o médico Beck Weathers e Emily Watson (A Teoria de Tudo) vive Helen Wilton, a primeira mulher dinamarquesa a conseguir chegar ao topo da mais alta montanha da Cordilheira do Himalaia.

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O primeiro questionamento que fiz durante o primeiro ato do filme, foi “Por que diabos alguém deseja viver uma experiência dessas?”. Depois dele, veio um segundo questionamento: “Por que diabos alguém paga 65 mil dólares para viver uma experiência como essa?”

A resposta para o primeiro questionamento é bem simples. Na maioria dos casos, alguém se sujeita a esse tipo de aventura para fins de superação, encontro ou reencontro com seu verdadeiro “eu” e outros arquétipos que podem ser enquadrados no mesmo pacote de serviços. Já o segundo questionamento poderia ser um mote tão importante quanto a catástrofe vivida pela a equipe de Rob Hall e de outras agências de turismo especializada neste tipo de expedição.

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A primeira hora do filme trata de algo que eu e você já assistimos em outras sessões – uma equipe se dirigindo para o desafio, a apresentação dos personagens, a preparação de todos eles e a jornada até a conquista do objetivo. Em paralelo a esta jornada, conhecemos a personalidade de cada um, apreciamos boas tomadas aéreas da paisagem nepalesa e toda a grandiosidade gélida da maior montanha do mundo. Baltasar soube, neste primeiro momento, oscilar entre a tensão e o suspense, além de fazer o espectador pensar incessantemente em única questão – “Que horas que vai dar merda?”.

Na segunda hora, o suspense sai de cena para dar lugar à agonia, e a partir daí, são dois sentimentos ruins ao mesmo tempo. Tensão e agonia, ambas trabalhando juntas numa história que, na sua cabeça, já está fadada ao fracasso, mas tudo que você deseja saber é o desfecho dela. Isso, o responsável pelo setor de execuções que eu citei no início desta resenha, Baltasar Kormákur, soube fazer muito bem.

A fotografia de Evereste está ótima, mesmo que a dificuldade de rodar tomadas num pano de fundo como a neve e as geleiras enormes seja notável. Deve ter sido um grande desafio para o diretor de fotografia, Salvatore Totino, que conseguiu com maestria driblar os percalços de entregar algo que não afete negativamente a experiência do espectador.

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Em contrapartida, Evereste tem algumas falhas e pontos inconclusivos. O primeiro deles é a quantidade de medalhões em um filme com um plot desses. Eu não vi, por exemplo, a necessidade de Jake Gyllenhaal interpretar Scott Fischer, nem de Keira Knightley ser Jan Arnold, a esposa de Rob Hall. Dois personagens que poderiam muito bem serem vividos por atores menos aclamados. Isso faria com que a carreira de ambos ganhasse um gás a mais e nós, como espectadores, passaríamos a conhecer o trabalho de gente nova. Eu entendo que figurinhas carimbadas em blockbusters são necessárias para chamar público e tunar a arrecadação em bilhetarias, todavia, se fossem interpretados por outros profissionais, não faria diferença alguma.

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O personagem vivido por Josh Brolin é outro ponto negativo do longa. Willian Nicholson não deixou muito claras as verdadeiras intenções de Beck Weathers. Num primeiro momento ele parece ser o antagonista da história, enquanto num segundo momento, parece ter sido contaminado pela temperatura abaixo de zero. Isso não quer dizer que Brolin interpretou o personagem de qualquer jeito, ele fez o que sempre soube fazer, mas quando se tem problemas de roteiro ser um bom ator não é sinônimo de sucesso.

Por fim, existem problemas com alguns efeitos especiais, principalmente os que pertencem ao setor de “CGI”, bem como os que circundam o ambiente de “trilha sonora”. Por exemplo, eles estão próximos ao cume mais alto do mundo, mas em dado momento aparece um cume ainda maior. Em relação à trilha sonora, os problema são de casamento, ou seja, em determinada hora o que se via na tela não casava com a sonoridade que seu ouvido captava.

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Evereste é um filme que tinha um grande potencial, mas que foi pouco aproveitado. Os momentos de tensão e agonia abaixo de zero fazem com que você releve os problemas que a produção carrega. Tudo o que importa, desde o momento que você entra na sala de cinema até o momento em que os créditos passam a ser exibidos na tela, é o desfecho dessa história, a capacidade do diretor de tirar o seu fôlego e de fazer você ficar compenetrado na jornada do início ao fim. E a verdade é que isso, ele consegue.

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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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