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Creed: Nascido para Lutar (2016) | Um filme além do mito

Quem diria que depois de seis filmes voltaríamos a ver Sylvester Stallone nas telonas, no papel do “Garanhão Italiano”, o mito que atende pela alcunha de Rocky Balboa. Só por esse detalhe, o filme já não poderia passar despercebido e, depois de saber que a história seria sobre a trajetória de Adonis Johnson (Michael B. Jordan), filho de Apollo Creed ou melhor Apollo – “O Doutrinador” – melhor ainda.

O grande campeão mundial de boxe, que tinha 46 vitórias, nenhuma derrota e 46 nocautes até conhecer Rocky Balboa – o primeiro cara a fazer Apollo – O Doutrinador beijar a lona. Foi ele também o primeiro a levar a luta para 15 rounds sem ser nocauteado. Mas enfim, não vou ficar falando de estatísticas referentes aos feitos do Garanhão Italiano, vamos falar de Creed: Nascido para Lutar.

Adonis Johnson está em um reformatório, ele jamais conheceu o falecido pai, Apollo Creed, que morreu lutando contra Ivan Drago em “Rocky IV” (1985). Ele é um garoto durão, do tipo revoltado e que não tem medo de socar a cara do primeiro que tentar ofendê-lo de alguma forma, principalmente quando for em relação a sua família. Mary Anne (Phylicia Rashād), viúva de Apollo Creed, resolve visitar o garoto no reformatório e após uma conversa um tanto esclarecedora, convida Adonis para morar com ela. Ele acaba aceitando e a vida do pequeno Creed passa a ter um novo rumo.

Quando adulto, Donnie (como é chamado durante todo o filme) trabalha numa grande empresa e encontra tempo para participar de lutas de boxe clandestinas no México. Adonis não está contente com o seu emprego e vê em seu destino a vida como lutador de Boxe. Ele pede demissão da empresa para se dedicar ao esporte, sai de casa e vai até a Filadélfia em busca do melhor amigo de seu pai – o lendário Rocky Balboa.

Deixado sozinho, Rocky Balboa, que não conseguiu estabelecer um relacionamento com seu filho e perdeu todas as pessoas próximas a ele, vê em Adonis a força e determinação que uma vez viu em Apollo, e concorda em desempenhar o papel de treinador e mentor do novato boxeador pela segunda vez em sua vida (a primeira foi quando ele tentou treinar o filho). Entretanto, Rocky terá um novo desafio neste filme, algo mais forte e mortífero do que tudo o que já enfrentou durante sua carreira: o câncer.

O diretor Ryan Coogler está em seu segundo trabalho – o primeiro foi “Fruitvale Station: A Última Parada” (2013), também protagonizado por Michael B. Jordan e ganhador de 41 prêmios. Ou seja, não estamos diante de um diretor que teve sorte de principiante, muito menos de um inexperiente. Com auxílio de Stallone na produção, Coogler mostrou uma história emocionante sem se apegar aos clichês comuns de tramas de superação e encontro com seu verdadeiro destino. Em Creed: Nascido para Lutar não existe uma busca forçada por superação e nem o misticismo de um legado deixado por um ancestral. Adonis não leva a carreira do pai, o que ela representa ou a persona que ele foi como muleta. Ele luta para construir o próprio nome apostando em seu talento e, claro, com a ajuda de um mentor. O jovem sabe que a estrada é longa e sabe também que ela é sinuosa, mas simplesmente segue, pois tem pleno conhecimento de que nasceu para lutar.

Em contrapartida, Rocky Balboa não precisa ser um mito imbatível, tampouco aquele cara que suporta 15 rounds sem beijar a lona. Aqui ele tem outra postura e vive outro momento. Coogler mostrou um novo Rocky, um Rocky mais humano. É muito foda ver o Rocky lutando contra algo muito mais forte que ele. No começo ele pode achar que não tem chances ou que não as merece, mas depois o cara arrebenta. Em Creed: Nascido para Lutar o oponente é outro e o esforço é outro também. Ele vai ao extremo por ele e pelo filho de Apollo Creed. Chega a cortar o coração as cenas em que a sua força é posta a prova. Você fica impressionado com a facilidade que Stallone tem de interpretar Rocky ou, melhor dizendo, com a destreza, habilidade e sabedoria que ele encarna o grande lutador. Em alguns momentos fica difícil saber quem é quem, pois existe muito de Rocky em Stallone e muito Stallone em Rocky.

A atuação de Stallone está ótima, tanto é que levou neste último domingo (10) o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante – o primeiro de sua carreira (ele concorreu em 1977 pela sua atuação em Rocky: Um lutador (1976), mas não levou). Quarenta anos depois de concorrer pela primeira vez ele conquista o prêmio pelo mesmo papel e provavelmente será um dos indicados ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante este ano.

Já Michael B. Jordan é um cara que vem crescendo muito dentro da indústria. Ele fez um bom trabalho em “Poder sem Limites” (2012), esteve muito bem em “Quarteto Fantástico” (2015) (apesar dos pesares) e está fora de série em “Fruitvale Station – A Última Parada” (2013). É o cara que representa a nova geração negra no cinema e o cinema precisa de mais atores como ele. Em Creed: Nascido para Lutar ele interpreta um cara que tem que lutar contra tudo e contra todos para se tornar alguém na vida e sair da sombra do pai. Em um esporte como esse, este desafio não é para qualquer um. Esse tipo de personagem tem que ser interpretado por quem aguenta um fardo pesado e o garoto suportou perfeitamente. Você enxerga em Adonis a essência de Apollo Creed e algumas cenas fazem questão de deixar isso bem claro ao espectador.

Não obstante da trajetória dos outros dois personagens, Tessa Thompson, que interpreta Bianca, tem uma função importante no longa. Ela é quem costura os momentos entre Adonis e Rocky, quebra um pouco o ritmo e mostra um outro lado do boxeador novato. Sua trajetória em tela também é importante e mostra, junto com a de Adonis, a importância de se dedicar a fazer o que gosta em busca de uma evolução e não baixar a cabeça diante das dificuldades que a vida nos impõe. Ela é uma garota que tem deficiência auditiva gradativa, ou seja, de uma hora para a outra perderá o sistema auditivo por completo. Mas nem por isso deixa de lutar e de buscar tudo aquilo que sonha e deseja para a vida.

Apesar de ser um pouco previsível, as cenas de luta são legais e ótimos efeitos de perspectiva foram utilizados nelas. Contudo, se comparado ao filme Nocaute (2015),  as cenas de Creed: Nascido para Lutar dentro do ringue se tornam medianas. Em “Nocaute” o espectador quase sentia cada soco, já aqui é algo mais clássico, não tão cru e obscuro. É como sempre foram as lutas que vimos em mais de seis filmes protagonizados por Rocky Balboa.

A trilha sonora dispensa comentários. Eles acertaram muito em não tocar “Eye of the Tiger”, pois apesar de ser um filme com o Rocky, aqui seu papel é de coadjuvante. Ele é o mentor, não faria sentido algum tocá-la. Portanto, acertaram em cheio nisso.

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Creed: Nascido para Lutar é um longa primoroso que não precisou se escorar na ideia de um reboot, forçar um Rocky campeão e muito menos trazer à tona os velhos clichês de filmes de boxe. Você vai amar as referências à franquia Rocky que encontrará durante os 95 minutos e também vai se emocionar com um enredo que vai muito além do mito, além do legado e mais ainda do imbatível e da conquista do impossível.

 

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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