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Anardeus: No Calor Da Destruição | A repulsa e o anseio pelo caos

“Assim que invado o mundo abro os olhos atentos, violadores. As enfermeiras logo decidem evitar contato. Discretamente, tiram na sorte quem me dará o primeiro banho.”

Anardeus – No Calor Da Destruição, de Walter Tierno tem como foco o personagem homônimo e fala basicamente sobre repulsa.

Sim, repulsa, a começar pelo personagem, que nasce feio e é rejeitado por todos à sua volta, inclusive a própria mãe, e então temos a sua antítese, Isabel, sua irmã gêmea, linda e adorada por todos.

Enquanto ela é o centro de todas as atenções, ele é o centro de todo o nojo e faz transparecer o que há de pior nas pessoas. Ele não cresce ignorado, como se não o vissem, ele cresce como se não o quisessem ver.

Anardeus No Calor Da Destruição  A repulsa e o anseio pelo caosAnardeus sonha acordado com tragédias e estas, por sua vez, acontecem, e ele se delicia, como se pedisse por elas.

“É o que antecipo e, por isso, sei que é o que desejo.”

O mundo sempre o odiou, e ele ama odiar o mundo, está sempre com frio e a única maneira de aquecê-lo realmente é presenciar a morte. É quando ele entra num estado de êxtase profundo, como um viciado, e ele quer mais.

A obra traz todo um lado místico nessa questão, com uma espécie de Amazona de fogo que aparece para ele nesses momentos de transe caótico e lhe dá de presente esses momentos sonhados, outro ponto místico são os irmãos, que são completamente antíteses um do outro mas se completam, como se tivessem uma ligação além da sanguínea, mas espiritual. Por exemplo, enquanto o protagonista está sempre com frio, Isabel está sempre com calor.

Não há heróis aqui, não há pessoas boas muito menos santos, só o pior lado da realidade humana suja, você consegue sentir empatia pelo personagem a cada “patada”, a cada humilhação que o mesmo sofre, mas ao mesmo tempo consegue se sentir desconfortável com elas, ele não tem nenhuma barreira, nada, apenas sadismo. A única pessoa pela qual ele sente empatia é a irmã, e a única pessoa que sente empatia por ele é a mesma, chegando ao ponto de desejo carnal.

A história começa como uma entrevista, Anardeus conta memórias de sua vida para um fotografo, como se confessasse seus atos para ele com orgulho. Estas memórias são contadas de forma desconexa, sem seguir nenhuma linha continua. Isso pode soar confuso, mas não o é, o autor encaixou perfeitamente tudo de forma com que o público não se perca e é claro, espere por mais.

O livro é dividido em três pontos de vista: A de Anardeus, a do fotógrafo e finalmente, a de Isabel. Podemos ver nisso como tudo é bem ligado e esclarecedor, é um livro que se fecha, cheio de entrelinhas e com um estilo de escrita muito bom, eu particularmente li o livro muito rápido, é como se o autor tivesse o poder de te fazer mergulhar dentro da obra.

A arte segue uma linha muito bonita, tribal e cartunista, você fica maravilhado com o estilo dado e com o visual clean, é um livro bonito de se ter na estante, outro ponto positivo é que o autor se baseou muito em si mesmo para escrevê-lo, de acordo com ele, foi preciso “exorcizar alguns demônios”.

É uma obra 100% nacional, se passando em São Paulo, o que deixa tudo melhor afinal de contas, as referencias estão perto de nós.

“Um romance sem rótulos ou lugar-comum, para ler e sentir tudo – menos indiferença.”


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Escrito por Jefferson Venancius

Escritor, redator, roteirista e músico. https://conde.carrd.co

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