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Origens e Evoluções | Harley Quinn

A psiquiatra Harleen Frances Quinzel trabalhava tranquilamente no Arkham Asylum quando um paciente mudou sua vida para sempre. Mas há muito mais por trás dessa personagem complexa, divertida e poderosa do que a maioria das pessoas sabe. Muito mais do que a namoradinha do Coringa, Harley Quinn é uma das personagens mais amadas dos quadrinhos, cujo sucesso enorme foi conquistado por conta própria.

A revista da Harley Quinn é a mais vendida da DC Comics – mesmo com sua personalidade casualmente homicida, alegremente amoral e mentalmente desequilibrada. Houve um tempo em que ela era uma profissional bem-sucedida, mas deixou essa vida para trás ao se envolver com um paciente psicopata e, juntos, começarem uma onda de crimes que faria Bonnie e Clyde estremecerem.

A verdade é que Harley fez do mundo um lugar melhor – mas por acidente e não em nome da verdade, da justiça e da paz.

PRIMEIRA APARIÇÃO:

Ao contrário da maioria dos personagens de sucesso da DC Comics, Harley não nasceu em uma revista em quadrinhos. Foi em “Batman: The Animated Series”, no episódio “Joker’s Favor” (episódio #08, 11/09/1992) que ela foi introduzida, como uma sidekick do Coringa.

Seu criador, Paul Dini, inspirou-se na performance de uma comediante que, mais tarde, tornou-se dubladora da personagem: Arleen Sorkin. Em 1987 a artista era uma regular da peça teatral “Days of Our Lives”, mas não era apenas um alívio cômico. Além de atriz, ela trabalhou como roteirista e criou um episódio onde interpretava um “bobo da corte”, vestida de palhaça, usando patins e fazendo piadas para agradar uma família real. Assista o vídeo abaixo e testemunhe a origem da personagem Harley Quinn:

Em meados de 1991, Arleen Sorkin presenteou seu amigo Paul Dini com um VHS que continha seus momentos favoritos da peça “Days of Our Lives”. Dini trabalhava como freelancer no roteiro da série animada do Batman, que ainda não tinha estreado. Coincidentemente o roteirista estava com a ideia de criar uma personagem feminina para aparecer em um episódio focado no Coringa. Ao assistir a performance de Sorkin as peças se encaixaram e junto com Bruce Timm, Harley nasceu.

Origens e Evoluções | Harley Quinn

Harley Quinn foi concebida com aquele visual tradicional que todos nós conhecemos (e é bem diferente de seu visual atual): um macacão vermelho e preto adornado com símbolos de baralho, punhos com babados e um chapéu de bobo da corte.

Arleen Sorkin foi convidada para dublar a personagem e criou a voz perfeita: aguda, anasalada e musical. Assista a primeira aparição da Harley dublada por Sorkin:

Criada para aparecer em apenas um episódio, ela não tinha nascido para ser um mero plot device. Nas palavras de Bruce Timm “Quando esse primeiro episódio em que ela apareceu foi ao ar e nós vimos sua versão animada, a combinação do desempenho visual e a dublagem de Arleen Sorkin, sabe, foi uma espécie de mágica”.

Paul Dini não apenas trouxe ela de volta, como ao longo de sete anos, junto com Timm e Sorkin, transformou Harley em um dos personagens mais memoráveis de todos os tempos. Sua popularidade foi algo singular, ainda mais pelo fato dela não existir nos quadrinhos mainstream do Batman na época.

Origens e Evoluções | Harley Quinn

A origem da personagem foi contada realmente em uma graphic novel de 1994 – The Batman Adventures: Mad Love. Escrita e desenhada por Paul Dini e Bruce Timm, a história em quadrinhos revelou origens da Harley como a psiquiatra Dr. Harleen Quinzel do Arkham Asylum que se apaixonou pelo Coringa. A história foi amplamente elogiada e ganhou os prêmios Eisner e Harvey Awards.

A história de “Mad Love” era muito violenta para a série animada, por isso foi adaptada de uma forma mais branda no episódio “Mad Love” em 1999. Esse momento marcou a primeira adaptação da Harley dos quadrinhos para a TV. Assista:

HARLEY, A PSIQUIATRA:

Harleen Frances Quinzel era uma estudante modelo, que além de receber notas altas na faculdade, também era uma ginasta dedicada – o que lhe garantiu uma bolsa de estudos na Universidade de Gotham City. Ela se formou em medicina e conseguiu seu primeiro emprego no hospital psiquiátrico chamado Elizabeth Arkham Asylum for the Criminally Insane, mais conhecido como “Arkham Asylum”.

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Apesar de trabalhar com vários criminosos lunáticos no Arkham, ela ficou fascinada por um detento em particular – o Coringa. Harleen se voluntariou para tratá-lo e durante suas sessões, o Coringa falava sobre um passado trágico onde seu próprio pai teria abusado dele. Ela sentiu empatia e se deixou seduzir, rapidamente se apaixonando pelo paciente. Depois de ajudá-lo a fugir do hospital, Harleen foi apontada como suspeita pelas autoridades, que revogaram sua licença e a prenderam. Ela consegue fugir e inicia sua vida como a criminosa Harley Quinn, braço direito do Coringa.

HARLEY QUINN NOS QUADRINHOS: INÍCIO CONTURBADO

Devido ao sucesso de “Mad Love”, logo Harley se tornou regular em “The Batman Adventures”, uma série em quadrinhos ambientada no universo da série animada. Depois de alguns anos provando sua popularidade, em 1999 a DC a transformou em uma personagem canônica.

Em 2001, ela ganhou sua própria série mensal, chamada “Harley Quinn”. Infelizmente, ainda não era a hora da personagem brilhar e a revista foi cancelada em 2003. Durante algum tempo ela foi usada esporadicamente nas revistas de outros personagens.

Origens e Evoluções | Harley Quinn
Harley Quinn, 1999.

O JOGO QUE MUDOU TUDO

A salvação de Harley veio de fora das páginas das HQs. Essa salvação também definiu um novo modelo – extremamente controverso – para o visual da personagem.

Dado seu nascimento fora dos quadrinhos, é uma estranha coincidência que o renascimento de Harley aconteceu também em outra mídia: o videogame. Em 2009, a Rocksteady Studios lançou”Batman: Arkham Asylum”, e, embora fosse insanamente complexo e violento, a principal inspiração dos criadores foi “Batman: The Animated Series”. Dini roteirizou, Kevin Conroy e Mark Hamill voltaram a dublar Batman e Coringa e, consequentemente, Harley Quinn ganhou seu espaço, dublada por Sorkin.

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Dessa visibilidade surgiram as polêmicas sobre seu novo visual. O macacão vermelho e preto icônico foi substituído por botas de salto alto, espartilho vermelho e roxo (que mal cobria seus seios) e – uma vez que todo o jogo ocorreu dentro do Arkham Asylum – algumas partes de vestes de médica manchadas de sangue. Seu rosto ainda estava pintado, mas seu chapéu de bobo da corte foi substituído pelo cabelo preso em dois tufos laterais. Foi, no mínimo, uma apresentação visual muito diferente para a personagem.

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Arkham Asylum foi um sucesso gigantesco. O videogame é uma mídia maciçamente influente hoje em dia e, levando em consideração que Harley não apareceu em nenhum dos filmes Batman, o game apresentou a única representação mais influente da personagem desde seu auge, na série animada. Vale lembrar que nos outros dois jogos da franquia, ela apresentou outros visuais.

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PÓS-FLASHPOINT: Terra-0/ Os Novos 52

Mas os jogos foram apenas o prelúdio de uma mudança ainda maior – e mais criticada pelos fãs. Em 2011, a DC iniciou um relançamento de seus quadrinhos em toda a empresa, reiniciando todo o seu universo e dando a muitos personagens uma reforma completa. Harley foi uma dessas personagens. Ela se tornou uma das estrelas do Esquadrão Suicida e antes que a primeira edição fosse lançada, já estava causando polêmica entre os fãs de longa data. A capa deu destaque para Harley, uma figura sexy de cabelo tingido, que vestia um espartilho ainda mais revelador do que o que ela usava em Arkham Asylum.

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A mudança no visual da Harley foi duramente criticada pelos fãs, principalmente pelo público feminino. Suas roupas agora eram curtas, sensuais e boa parte do seu corpo foi deixado à mostra. Seu cabelo não se escondeu mais em um chapéu e foi pintado de vermelho e azul. Aliás, os tons de vermelho e azul substituíram os clássicos preto e vermelho por completo. As maiores críticas ao novo visual da personagem se deram pela falta de elementos familiares circenses, sacrificando suas qualidades de caráter habituais para impor o sex appeal. O principal problema com o novo visual foi a falta de referências ao bobo da corte, que foi a verdadeira inspiração de sua criação.

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A justificativa para essa nova Harley foi que o público gostou muito de seu visual em Arkham Asylum.

ORIGEM MODIFICADA

Harleen é agora uma aluna modelo, nascida em Nova York e repleta de honrarias, bolsas de estudo e etc. Ela também admitiu que teve uma série de relacionamentos antes do Coringa entrar em sua vida. Harleen não acredita em nenhuma das histórias do Coringa sobre sua suposta infância abusiva. Ela ainda é retratada como uma mulher incrivelmente inteligente que possui conhecimento de defesa pessoal ou algum tipo de luta, pois ameaça o Coringa sem exitar ao perceber que ele trouxe uma faca para sua primeira sessão.

Na 10ª sessão o Coringa, de alguma forma, obtém o perfil da Dra. Harleen Quinzel e começa manipulá-la, particularmente usando um trauma que aconteceu em sua vida – a morte do pai de Harleen nas mãos de um rico e corrupto homem de negócios, que tinha conexões suficientes para escapar das acusações e da prisão. Aproveitando-se de sua fragilidade no momento, o Coringa faz a primeira tentativa de conquistar a lealdade de Harleen, presenteando-a com um dedo que, supostamente, seria do assassino de seu pai.

O supervisor de Harleen, Dr. Sterano, não a tratava com respeito e descobriu seu relacionamento com o Coringa depois de roubar suas anotações psiquiátricos com a intenção de publicar sua pesquisa como sua própria. A própria Harleen se mostra preocupada com a situação e admite seus sentimentos pessoais pelo Coringa para seu supervisor. Durante a reunião, ela vê alguns papéis caídos no chão e os reconhece como seus trabalhos de pesquisa sobre o Coringa. Num acesso de raiva Harleen tenta matar Sterano, mas é impedida por guardas. Em vez de se render, ela mata um guarda, liberta o Coringa de sua cela e foge com ele.

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O Coringa leva ela até o laboratório da Indústria Química ACE, em Gotham, e Harleen percebe a gravidade do que ela fez. Quando ela expressa sua vontade de ir embora, o Coringa joga-a em um tanque de produtos químicos e assiste sorrindo enquanto ela grita e implora por ajuda. Harleen acaba se afogando e quando o criminoso vai verificar o que aconteceu, vê que ela conseguiu sobreviver. As substâncias alteraram a cor do seu cabelo e de sua pele, além de deixá-la num estado mental tão instável quanto do próprio Coringa.

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Origens e Evoluções | Harley Quinn

ESQUADRÃO SUICIDA

Nos quadrinhos do Esquadrão Suicida, Harley era muito diferente de sua descrição clássica. Ela ainda estava apaixonada pelo Coringa, mas pensava que ele tinha sido morto. A personagem passava a maior parte do tempo confraternizando com seus companheiros de equipe e, inclusive, se relacionou amorosamente com um deles, o Pistoleiro. Ela estava, também, mais psicopata do que o habitual, sorrindo enquanto executava assassinatos sangrentos e rindo em situações onde até mesmo seus companheiros de equipe estavam aterrorizados.

Origens e Evoluções | Harley Quinn

A revista foi, em sua maior parte, duramente criticada e acabou cancelada após 30 edições. Harley Quinn, por sua vez, permaneceu imensamente popular devido à série de jogos “Arkham”, tendo até ganhado seu próprio spin-off em 2012, “A Vingança de Harley Quinn”.

VIRANDO A PÁGINA

Em 2013, a DC Comics resolveu escrever uma nova página na história conturbada da Harley, lançando uma nova HQ solo da personagem. Para isso, contratou a aclamada dupla Amanda Conner e Jimmy Palmiotti, que deram uma nova direção, bonita e experimental, para a personagem, diferente de qualquer uma que ela já teve. Conner e Palmiotti fizeram Harley assumir as rédeas da própria vida depois de mais uma rejeição do Coringa. Ela herdou, de um de seus pacientes do Arkham Asylum, um prédio de frente para a praia em Coney Island, no Brooklyn/NY. O prédio é habitado por um elenco totalmente circense de criaturas bizarras que trabalham em um show burlesco no térreo.

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Agora ela concilia sua nova função como administradora do prédio e de seus inquilinos com um emprego de psicóloga e canaliza sua agressividade em competições de roller-derby. Ela ainda é maluca, mas não parece e nem age como um sex symbol fetichista. Ela está vivendo à sua própria maneira e os escritores tentam canalizar o que fez dela um sucesso de uma forma mais saudável. Sua revista é um dos maiores sucessos da DC Comics, dando origem a várias edições especiais, anuais e tie-ins. A Harley atual é o mais próximo da personagem divertida que Bruce Timm e Paul Dini introduziram vinte anos atrás.

Origens e Evoluções | Harley Quinn

E este é o status atual da Harley. Seus roteiros são divertidos, cheios de ação e cores, ela deixou de ser dependente do Coringa e age de forma independente. Além disso, como todo mundo já sabe, em 2016 ela fará sua estreia nas telonas de cinema, interpretada pela atriz Margot Robbie no filme do Esquadrão Suicida.

É reconfortante saber que depois de tantos altos e baixos, polêmicas, erros e tentativas, Harley Quinn está recebendo o respeito que merece. Eu considero ela como uma das personagens femininas mais fortes dos quadrinhos, porque ela é mais parecida com mulheres reais do que outras. A Mulher-Maravilha, Canário Negro, Mulher Gavião e afins são mulheres poderosas e inalcançáveis, enquanto Harley é apenas uma humana que cometeu vários erros na vida e está tentando fazer o certo.

Origens e Evoluções | Harley Quinn

Ela passou por um relacionamento abusivo, perdeu quase tudo por causa de seu agressor, deu a volta por cima e – do seu jeitinho – tenta viver a vida de uma forma diferente de antes. Se isso não é um exemplo, então o que será?


OBS: Já está a venda no Brasil o encadernado que reúne as primeiras edições da revista da Harley Quinn de Amanda Conner e Jimmy Palmiotti! Leia nossa resenha: HQ do Dia | Arlequina #1 – Uma estranha no ninho

Veja também: Origens e Evoluções – Aquaman | Um dos heróis mais poderosos da DC Comics

Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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