Igor Tavares Quando G. Willow Wilson nos entregou a sensacional primeira edição de “Ms. Marvel” em Fevereiro de 2014 ficou evidente quase que imediatamente lendo aquelas páginas que qualquer edição de estreia de um volume subsequente de um título protagonizado por Kamala Khan não chegaria aos pés da satisfação, surpresa e nível de apresentação em uma primeira edição da personagem em questão.
De lá pra cá, esta encarnação de Ms. Marvel ganhou o mundo pop e se tornou um dos gibis mais populares da Marvel nesta década. O trabalho diferenciado e sensível de Wilson nos roteiros acompanhado da arte singular de Adrian Alphona e dos colaborados subsequentes transformou um gibi com uma pegada muito indie em um fenômeno pop nos quadrinhos.
Chegamos a “Completamente nova e Completamente diferente Marvel” (iniciativa da editora após o teórico “cataclismo” ocorrido durante a saga “Guerras Secretas”) e logicamente o espaço para “Ms. Marvel” na editora foi amplamente expandido. A heroína atualmente faz parte da equipe principal de Vingadores e naturalmente seu título ganha um novo volume. Felizmente para quem acompanha as aventuras de Kamala em Jersey, Wilson é mantida nos roteiros do gibi e temos este mês a estreia de uma nova fase para esta Ms. Marvel.
“Ms. Marvel” #1 (assim como todos os novos título da nova Marvel) se passa oito meses após os eventos finais de “Guerras Secretas” e mostra aos antigos e novos leitores como anda a vida da heroína nerd muçulmana tentando conciliar suas atividades com os Vingadores, sua vida pessoal e escolar e seus relacionamentos.
Wilson coloca boa dose de exposição nesta primeira edição em uma tentativa de facilitar o entendimento do contexto geral de Jersey na nova Marvel. Felizmente quase todas estas explanações são feitas de forma natural com diálogos leves e casuais entre os personagens. Kamala é a personagem de sempre, talvez um pouco mais exacerbada e tensa por conta de muitas atividades e principalmente ao descobrir que, durante o tempo em que deu foco às suas atividades super heroicas, seu querido Bruno foi viver sua própria vida. Ou seja…
Nossa Kamalinha aprende da maneira mais desagradável que “a fila anda”. O único problema no roteiro da estreia é que invariavelmente, “Ms. Marvel” é um gibi de super-heróis e na Marvel, isso significa que temos que ter antagonistas. Wilson introduz então o tema na forma de uma construtora desenvolvendo empreendimentos “nefastos” na área da nossa heroína.
Uma boa ideia de fato que por falta de espaço nas 33 páginas ou de cuidado na apresentação, se mostra simplória e unidimensional. Nada que não possa ser remediado nos próximos números com um pouco mais de carinho, mas o lance todo das “corporações malvadas” fechando estabelecimentos familiares e queimando o filme de heróis locais é um pouco batido. O destaque no roteiro vai para as intervenções de Bruno, um personagem que finalmente mostra crescimento no gibi e dá uma injeção de “mundo real” na protagonista que passou os últimos meses viajando pelos ambientes super heroicos e está por fora do que vem acontecendo bem em sua vizinhança. O roteiro de Wilson de maneira não intencional é mais um daqueles gibis que tira todo o impacto de “Guerras Secretas” de Jonathan Hickman. Fica claro através desta edição, que a saga, apesar de muito bem arquitetada e executada, até o momento teve impacto quase que zero na Marvel.
A arte nesta estreia de “Ms. Marvel” é uma linda colaboração entre Takeshi Miyazawa e Adrian Alphona. O primeiro artista desenha o “grosso” da revista, apresentando de forma única este elenco com uma caracterização específica para cada personagem (fica evidente comparando os tipos físicos dos personagens nas cenas entre as três moças na escola de Kamala) do gibi. Miyazawa, apesar de ter uma leve tendência a poluir os quadros com muita informação de fundo, dá um verdadeiro show de expressões faciais nesta estreia, apresenta os poderes da heroína de forma clara e muito simples e temos uma Jersey na medida certa entre o caricato e o verossímil. Alphona dar o ar de sua graça no flashback final apresentando o novo amor de Bruno, Michaela Miller. As cenas completam naturalmente o trabalho anterior de Takeshi e é muito bom ver o ilustrador original do título retornando mesmo que somente poralgumas passagens. Uma apresentação digna do cacife desta estreia.
“Ms. Marvel” #1 vem basicamente assegurar aos fãs que o título de Kamala Khan na “Nova e Diferente Marvel” continua em boas mãos. G. Willow Wilson apresenta uma Kamala provando o amargo remédio de seu comprometimento em ajudar os outros na forma de uma desilusão amorosa (que a faz até agir de forma condenável em uma passagem específica), isso tudo com o clima despojado característico e inserido mal ou bem no novo contexto da Marvel para 2015/2016. A arte no título continua irretocável, sensível e ímpar e apesar de termos uma premissa antagônica meio fraca nesta estreia ainda assim este é um dos melhores títulos da Marvel no mercado este mês.
Leia as reviews dos novos títulos da Marvel pós-Guerras Secretas:
