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HQ do Dia | Red Team

Se você tem um mínimo de contato com quadrinhos adultos é possível que já tenha ouvido falar de Garth Ennis. O Irlandês que tem um extenso currículo é responsável pela obra prima moderna chamada Preacher da Vertigo além de diversos outros títulos como Hitman para a DC Comics e Justiceiro Max na Marvel só pra citar dois.

As obras de Ennis, para quem não está familiarizado são severas críticas a sociedade moderna com altas doses de violência, sarcasmo, cinismo, sexo e muitas vezes beiram oRed-Team_1 escatológico (Leiam The Boys, Crossed ou A Pro e digam se estou mentindo…). Ennis atualmente vem investindo bastante em franquias autorais com artistas consagrados no mercado de quadrinhos. No ano passado o roteirista se juntou ao desenhista Greg Cermak e para o lançamento de Red Team pela editora Dynamite. 

Red Team é um conto policial em sete partes sobre um esquadrão antinarcóticos da polícia de Nova York. A história mostra a área cinzenta do trabalho policial quando os membros do esquadrão formam um grupo de extermínio para “resolver” problemas que não conseguiriam como policiais. Leia-se “apagar vagabundo”.

A história de Red Team é estruturada através de entrevistas em sala de interrogatório com os quatro membros da equipe. Cada edição é contada em forma de flashback sob o ponto de vista do entrevistado. Ennis consegue imprimir um tom bem particular para cada voz de personagem na narrativa e a trama avança em um ritmo próprio e bem cadenciado, com pontos de vista que se entrelaçam em direção a uma inevitável tragédia anunciada. Todo o roteiro é extremamente realista e o autor possivelmente escreveu a história pensando em adaptações para outras mídias, tendo em vista a quantidade de detalhes técnicos do trabalho policial encontrada aqui, a complexidade dos protagonistas, os diálogos mundanos e a ausência de suas típicas bizarrices. Mas não pense que Red Team deixa de ser um trabalho violento do autor. A HQ é bem violenta sim, mas não há o sadismo exacerbado ou a violência muitas vezes gratuita que encontramos em alguns de seus roteiros. Tudo aqui é feito para servir um roteiro muito bem costurado. A premissa de um time de policiais que forma um grupo de extermínio é bem manjada e pela sinopse provavelmente a HQ não deve atrair muita gente, no entanto a execução destas sete edições é perfeita e os personagens são cativantes desde o início pelo realismo e humanidade impressa pelo autor. Ennis consegue pegar um conceito nada original e explorar todo o impacto de se fazer justiça com as próprias mãos na vida dos indivíduos. Uma discussão muito pertinente nos tempos atuais.

Craig Cermak é o artista nas sete edições e faz um trabalho excelente. O ilustrador consegue dar identidade para os protagonistas, impacto e seriedade a trama se valendo de fotografia típica de storyboards mas com muitos detalhes e expressões faciais bem detalhadas e cheias de nuances. Nas cenas de interrogatório vemos sua habilidade com rostos e nas cenas externas e de ação sua lucidez em utilizar quadros simples, retos e sólidos para as execuções. Seus desenhos são perfeitos para este tema pois são realistas na medida certa e nas partes mais violentas tem o impacto necessário para chocar o leitor.

Bom, Red Team não é o típico trabalho de Garth Ennis. A história é extremamente séria, a premissa não tem nada de absurdo, e não há sua usual dose de violência explícita e nem suas típicas bizarrices acontecem aqui. No entanto, não há nada de errado nisso. A trama é excelente apesar de séria, os diálogos são muito bem escritos, os personagens tem uma bagagem emocional pesada que transparece logo nas primeiras páginas e a história prende a atenção. A arte de Craig Cermak é lindíssima, lembrando um pouco o Gary Frank em seu recente trabalho em Shazam. Enfim pra quem espera alguma coisa no nível de The Boys, Crossed etc. talvez essa não seja uma boa pedida, mas pra quem quer ler uma HQ criminal com qualidade incontestável Red Team é um ótimo título.

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Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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