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HQ do Dia | Edward Mãos de Tesoura #1

Quase 25 anos após o lançamento da quintessencial fábula negra de Tim Burton, a autora Kate Leth e o artista Drew Rausch nos trazem de volta ao mundo de Edward Mãos de Tesoura em uma HQ da editora IDW. A história se passa 50 anos após os eventos do longa metragem. Kim, a protagonista vivida pela jovem Winona Ryder está morta e suas histórias sobre Edward são tratadas como devaneios de uma velha senil, exceto pela nova protagonista, a adolescente Megan, neta de Kim. Edward por sua vez, ainda vive no castelo de seu Inventor em reclusão e os anos de solidão o levam a explorar cada vez mais o lugar. E descobrir segredos que prometem mudar sua visão do mundo e deixam a história um pouco mais sombria do que o filme original.

O argumento de Leth acerta em cheio no tom da narrativa e a HQ toda transita naquela linha tênue e desconfortável (de se trabalhar, não de ler) entre o conto-de-fadas Edward-Mãos-de-tesoura_1infantil e o drama sombrio e melancólico. O filme original é remanescente de uma época desgarrada das noções do politicamente correto e na qual as crianças eventualmente eram expostas a coisas um pouco mais sombrias ou violentas. Este título não se esconde nem foge muito desse tom, apesar de estarmos em plena era do “sol com a peneira”em termos de conteúdo infantil. Mérito total para a autora, que faz um bonito resgate da ambientação do roteiro de Caroline Thompson no longa.

Edward continua o mesmo misantropo monossilábico de 50 anos atrás. Assim como no filme, a parte mais verborrágica da HQ se dá no núcleo formado pela família de Kim, Peg e Megan. Onde se vê ainda todo o descrédito e rancor em relação às histórias da antiga protagonista.

A arte de Drew Rausch é bastante diferente do que você vê na belíssima capa ao lado desenhada por Gabriel Rodriguez. O traço do desenhista de interiores é extremamente caricato e cartunesco, em uma veia muito similar a do desenhista Skootie Young (que trabalha em Rocket Raccoon da Marvel atualmente). A arte lembra muito desenhos originais do Cartoon Network e é a parte mais infantil da HQ. De qualquer maneira a caracterização torta, surrealista e desproporcional dos cenários, personagens e objetos de cena presta uma bela homenagem às animações de Burton como O Estranho Mundo de Jack A Noiva Cadáver. Esta arte somada ao roteiro simples de Leth felizmente contribui para atrair os leitores mais jovens, que normalmente não tem muita paciência para desenhos mais realistas e rebuscados.

Edward Mãos de Tesoura é uma ótima leitura para os saudosistas e fãs da obra de Tim Burton. A roteirista não gasta páginas com flashbacks nesta primeira edição, assumindo que boa parte do público que vai comprar este material já conhece a história de trás para frente. Apesar da introdução à história prévia ser feita por um curto texto de recapitulação a HQ não sacrifica novos leitores e consegue se sustentar com um roteiro original e uma história que avança em direção a algo concreto. O principal problema é que, por se valer de um tom narrativo que não é direcionado a nenhum público específico este material pode acabar em algum limbo no qual nem as crianças de hoje em dia (acostumadas com material menos sombrio) nem os adultos transitam. A HQ, assim como a obra cinematográfica original, é um pouco sombria demais para as crianças de 2014 e não é séria o suficiente para os adultos de hoje em dia. Por isso acredito que só fãs mesmo se interessarão por isso aqui.

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Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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