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HQ do Dia | Clube da Luta 2 #1

Tyler Durdeen vive!

Sim, seus encrenqueiros psicóticos. O dia chegou. A revolução está de volta e o Projeto Caos também. Ontem estreou a primeira edição de Clube da Luta 2 da Dark Horse Comics, HQ que continua a saga dos protagonistas do romance escrito por Chuck Palahniuk popularizado em 1999 pelo longa metragem de David Fincher. Aqui temos o próprio Chuck escrevendo o roteiro da continuação para a arte do consagrado desenhista da DC ComicsCameron Stewart (que já entrevistamos aqui).

A história se passa dez anos após a fundação do Projeto Caos, por Tyler. Sebastian (o protagonista e narrador da história original, vivido por Edward Norton que finalmente tem um nome) agora é um homem casado com Marla (Sim. A Marla), tem um filho e sua personalidade alternativa é mantida sob controle através de um batalhão de medicamentos. Mas amigos imaginários nunca vão embora e Marla está aí para assegurar que Tyler retorne. Assim recomeça a onda de caos na vida de Sebastian.Clube da Luta 2

O grande trunfo de Clube da Luta 2 é ter seu roteiro escrito pelo criador deste universo. Isto torna a leitura familiar para fãs do filme e do romance, mas ao mesmo tempo totalmente caótica. As frases e diálogos são atravessados e ambíguos. As situações passam como flashes de amnésia ou memórias de alguma ressaca para o leitor. Há aquela sensação de que você está lendo, mas ao mesmo tempo lentamente perdendo o controle da leitura, o que em se tratando de quadrinhos, não é uma coisa muito comum. Palahniuk consegue balancear muito bem esse formato extremamente caótico e vago de leitura com um roteiro coerente e personagens que são evoluções claras daqueles no romance original. Um exemplo disso é a cena de diálogo entre Sebastian e seu filho, que está na janela enquanto o pai corta a grama do quintal. As falas ali evocam memórias do roteiro da obra original, mas ao mesmo tempo dão outra dimensão a este personagem, que continua sequelado, mas agora tenta ser um pai. Tyler continua exatamente como você se lembra: Verborrágico, obstinado e imprevisível. O personagem é o único que de fato não apresenta mudança alguma em relação a sua versão original, por motivos mais do que óbvios. Marla nesta primeira edição é o catalisador da volta de Tyler. A personagem claramente entediada com a vidinha mundana oferecida por Sebastian é o elo de ligação entre esta continuação e a história original. De certa maneira Marla somos nós leitores, que estamos de saco cheio dos nossos Sebastians e queremos um Tyler tocando o terror no nosso mundo monótono e enlatado.

A arte de Cameron Stewart em Clube da Luta 2 é uma abordagem muito direta deste roteiro. O traço já característico do artista dá cara ao elenco sem emular ou tentar adaptar traços faciais da adaptação cinematográfica. Você sabe de cara quem é quem, no entanto estas são versões 100% quadrinhos destes personagens. O ilustrador contribuí muito para o aspecto caótico do roteiro com intervenções no meio das páginas. Objetos como remédios, pétalas etc intencionalmente bloqueiam alguns quadros e dão a sensação de que você está tão perdido quanto Sebastian. Lentamente a ascensão de Tyler vai se tornando cada vez mais concreta até o clímax final da edição no qual o artista e o roteiro finalmente dão aos leitores uma amostra da insanidade do protagonista.

Clube da Luta 2 não é uma mera adaptação de um romance ou filme. A edição de estreia transpõe com sucesso a decrépita condição mental do protagonista para o formato de quadrinhos. O formato de apresentação e roteiro é torto, ambíguo e irregular como deve ser a história de um cara que sofre de dupla personalidade. Faltam peças no quebra cabeça de Sebastian, então faltam quadros e falta muita coisa na transposição da história para este formato. Isso de forma alguma afeta a compreensão do roteiro da HQ, só enfatiza o estado mental da maioria do seu elenco. Ler Clube da Luta 2 é como tentar se lembrar de uma noite regada a drogas e álcool – Nem tudo fica claro a princípio e nem tudo ficará, mas esta é justamente a parte mais divertida das duas coisas.

Leia minha última resenha: HQ do Dia | Convergence #8

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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