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HQ do Dia | Constantine: The Hellblazer

Ler, escrever ou comentar sobre Hellblazer é um trabalho ingrato para qualquer profissional de entretenimento. Por mais que você cubra todos os pontos essenciais que caracterizam o personagem, sempre haverá um fã lá no canto da sala falando “É… Mas naquele arco do Ennis teve aquela vez que” (…) Sim. John Constantine é um sujeito difícil de lidar, seja no âmbito fictício, por causa de sua natureza cafajeste, ou para os profissionais que são designados para escrevê-lo.

Saltamos para o ano de 2013, quando após ser introduzido na cronologia dos Novos 52, o personagem ganhou um título solo escrito pela dupla Ray Fawkes e Jeff Lemire, além do posterior seriado estrelando o anti-herói.

Logicamente, apesar da qualidade da publicação e do próprio programa de TV, fãs mais tradicionais da Vertigo torceram o nariz, e os que aderiram a este “novo” John não tiveram força suficiente (não compraram a revista ou não mantiveram a audiência do seriado) para manter a inércia destes produtos. Resultado: tanto o título quanto a série foram descontinuados.

John Constantine, no entanto, continuou presente na continuidade da DC Comics, mesmo com seu título soloHQ do Dia | Constantine: The Hellblazer cancelado. Presença marcante na saga Fim dos Tempos e na própria Liga da Justiça Sombria, John sempre estava por perto aprontando das suas.

Agora em 2015, com a chegada da avalanche de novos títulos na DC Comics pós-Convergence, a empresa dá uma nova oportunidade ao bruxo com o título chamado Consntatine: The Hellblazer.

Com um novo time criativo, composto por Ming Doyle, James Tynion IV e inicialmente ilustrado por Riley Russomo, o personagem retorna com uma faceta um pouco mais urbana, tentando misturar o lado oculto de sua era Vertigo com uma pegada um pouco mais acessível para os leitores casuais.

O roteiro de Doyle e Tynion, na primeira edição, celebra a caracterização “malandra” do anti-herói. Os autores entendem perfeitamente a natureza egoísta de John, e isso reflete em seu poder de persuasão e nas artimanhas que utiliza para se livrar de encrencas desde as primeiras páginas da revista até seu final.

O tom da história, apesar de apresentar conteúdo maduro e sombrio de forma sutil, não chega a ser aquele horror que lemos em sua fase Vertigo. Mas, de qualquer forma, está bem longe da pirotecnia carnavalesca do volume anterior de sua publicação.

Temos aqui uma trama mística, com tons adultos e muito humor negro, tudo balanceado para se encaixar em um formato que não se classifique necessariamente como “acima de 18 anos”. Os diálogos, como não poderiam deixar de ser, são extensivos. John é irônico, perspicaz e um verdadeiro “player”, manipulando praticamente todo este elenco enquanto é atormentado constantemente por fantasmas de seu passado (literalmente).

A história começa pequena e contida, mas rapidamente e de forma surpreende, nos vemos envolvidos em uma trama macro que provavelmente ocupará a leitura das próximas quatro ou cinco edições com um tema bem familiar aos leitores do personagem. Os roteiristas mantém um ritmo dinâmico, misturando com destreza a mitologia arcana com a “piranhagem” do seu protagonista. Isso torna a leitura rápida e divertida, apesar da grande quantidade de texto enfiado no gibi.

A arte de Russomo é bem diferenciada do conteúdo atual da DC Comics. Uma sutil e bem-vinda mistura daquele traço americano híbrido com mangá, nos moldes do final da década de 1990, com uma pegada mais indie contemporânea.

Parece confuso e parece que não tem nada a ver com este tipo de gibi, mas funciona dentro do roteiro. A caracterização de John é adorável, o elenco de apoio é bizarro e distinto na medida certa, os cenários são incrivelmente bem trabalhados e não se esqueça que estamos falando de uma primeira edição, que nos leva por um passeio por TODOS os círculos do inferno.

As expressões faciais são bastante convincentes, apesar do tom meio cartoon. Um tipo de arte que está a milhas e milhas de distância do genérico e dá uma cara muito específica para a publicação, apesar de parecer não se encaixar com a temática proposta. É uma incrível contradição gráfica que faz um bem danado para esta revista.

Esta Hellblazer não veio para agradar os xiitas. Este, em essência, não é o título que vai unir os antigos fãs da Vertigo aos novos leitores – no entanto, fica claro que este não é o objetivo do time editorial da DC Comics. Os autores mostram que entendem a essência bastarda do personagem e inserem o mesmo em um contexto no qual possam desenvolver histórias que estejam no limite do conteúdo adulto.

Explorando temas que são característicos desta mitologia, com um toque urbano e salpicado com humor ácido, Doyle e Tynion IV nos entregam um intrigante e divertido início de arco. Tudo isso apresentado com uma arte muito característica e de extremo bom gosto, apesar de meio fora dos padrões para títulos deste tipo. Uma estreia intrigante e que com certeza vai fazer qualquer leitor com a cabeça mais aberta voltar para ler mais.


Veja as outras resenhas dos primeiros títulos da DC pós-Convergence:

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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